Porquê? Porque amava Madalena, porque este amor não tinha nada excepcional; era inconscientemente apreensivo, ambicioso, devaneador e ciumento, como todos os amores verdadeiros; porque era aquele o seu sonho mais querido, e, desde que era obrigado a convencer-se de que não passara de um sonho, não se sentia de ânimo para fitar a realidade; porque era aquela a luz da sua alma, e, ao vê-la apagar, vacilou nas trevas e parou. Desde que não avistava um alvo, não havia para ele retrogradar nem progredir; era um movimento sem fim, que não valia mais do que a quietação.
Esta fora a causa do desalento de Augusto, que só então conheceu que se iludira com o estado do seu coração, que o que em si se passara era o verdadeiro amor.
Desde que teve de renunciar a ele, não fez mais um esforço para justificar-se da calúnia que pesava sobre si. Sentia-se indiferente à condenação do mundo. Já nem lhe importava justificar-se para com Madalena; era quase uma vingança que tirava daquela por quem sofria obrigá-la a ser injusta.
E a sua consciência quase achava voluptuosidade nisto! O ervanário fora vítima da mesma ilusão de Augusto e concorrera involuntariamente para o levar a este estado moral.
Das explicações dadas por Madalena na casa dos Canaviais, sabemos como, das meias palavras e meias revelações de Torcato, o ervanário acreditara que a Morgadinha combinara imprudentemente com Henrique uma visita nocturna à quinta dos Canaviais.
O velho, que suspeitara sempre da natureza dos sentimentos de Henrique para com Madalena, julgou ver naquilo a confirmação das suas suspeitas, e, de irritado que estava, nem escutá-la quis.
Voltando a casa, o velho lidou por muito tempo com a dúvida se deveria ou não revelar tudo a Augusto.
A noite cerrou de todo e deslizou com a lentidão de uma noite de Inverno, sem que ele tivesse resolvido o que faria.