A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 30: XXXI Pág. 474 / 508

O Cancela dirigiu-se para o Mosteiro ainda a pensar nas palavras que ouviu a Augusto, e sem que atinasse com os motivos daquele desalento.

Não pôde, porém, chegar tão depressa ao Mosteiro como esperava; distraiu-o no caminho o seu compadre Zé P’reira.

A harmonia do par conjugal, de que constituía a parte masculina o nosso Zé P’reira, estava cada vez mais transtornada.

A beatice azedara o ânimo da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista.

A saída precipitada do missionário, que não se sentiu seguro na terra depois da cena do cemitério, e do desespero de Herodes, com quem ele imaginava a cada passo esbarrar, rodeara aquele santo varão do prestígio dos mártires perseguidos; e as saudades por ele e devoção pela sua memória aumentaram consideravelmente na aldeia.

Se mal corria há muito a casa e o governo doméstico da família Zé P’reira, pior se tornou depois dessa época.

A mulher passava todo o tempo em devoções na igreja. O marido, desconsolado, procurava lenitivo na taberna. Descuidou-se cada vez mais de trabalhar. A embriaguez era nele estado habitual e já menos inofensiva e pacífica do que nos primeiros tempos.

A miséria ameaçava invadir aquele lar, até ali remediado. Tudo isto exacerbara a acrimónia das discussões conjugais. Marido e mulher fustigavam-se com os menos amáveis epítetos e atribuíam-se reciprocamente as honras da ruína do casal. De noite desencadeava-se a tempestade doméstica e cada vez mais ameaçadora.

Um dia, o marido, excitado pelo vinho, foi mais além do que a sua timidez habitual o permitira até ali, e a Sr.ª Catarina soube, pela primeira vez, que o osso de que ela era osso não tinha a brandura que lhe suspeitava.

Deu-se uma cena escandalosa, em que interveio a vizinhança.

Daí por diante foram frequentes iguais espectáculos.





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