A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 491 / 508

Um dos mais maltratados era o Sr. Joãozinho das Perdizes.

Dizia o autor da correspondência que o Morgado se tinha vendido por vinho; que exercera pressão sobre os eleitores da sua freguesia; que era homem de péssimos costumes e moral depravada; jogador, bulhento, beberrão, cheio de dívidas, amigo de malfeitores, et coetera.

O conselheiro e Henrique seguiam a leitura com gargalhadas.

O comunicado passava depois a ocupar-se com o mestre Pertunhas.

O Brasileiro não lhe perdoara a pressa com que este celebrara a vitória do conselheiro, à frente da filarmónica que regia.

Por vingança chamava-lhe todos os nomes injuriosos, que a raiva lhe sugeria, inclusive o de estafador de trompa, e fechava por estas memoráveis palavras: «Para levar à evidência o carácter infame e intriguista deste sevandija, basta que diga que foi ele quem, poucos dias antes, subtraiu de uma pasta aquela célebre carta política, que tanto deu que falar no país. E este homem exerce o cargo de administrador do correio. Proh pudor!».

Como o leitor imagina, esta parte da correspondência produziu sensação no auditório.

Logo que Henrique concluiu a leitura, saiu de quase todas as bocas uma exclamação de surpresa ou de alegria.

- Como é?... Como é?... - perguntou o conselheiro. - Diz que...?

- É o mistério que se explica - respondeu Henrique. - A traição encarrega-se de a si própria se desmascarar.

- Então foi o Pertunhas?!... Mas... diz-se que tirou a carta de uma pasta.

- Era a de Augusto.

- Mas como estava ela aí?

- Lá isso sei eu como foi - disse D. Vitória -; fui eu que, por engano, lha tinha dado junta com outras para ele escolher alguma para a leitura dos pequenos.

Cristina celebrou a descoberta, beijando com efusão





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