A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 495 / 508

- Falarei. A recompensa a que Augusto aspira é a de fazer parte da família de... da nossa família - respondeu Henrique, olhando para Madalena, que já não tentava retê-lo.

- De fazer parte da nossa família? - repetiu o conselheiro. - Mas como?

- Como há-de ser? Visto eu não estar resolvido a prescindir de Cristina, e Mariana ser ainda criança, fácil é de conjecturar o único meio que ainda resta de realizar aquela pretensão.

O conselheiro compreendeu afinal, e, fitando Madalena, pôs-se a rir, dizendo:

- Pobre rapaz! Pois meteu-se-lhe isso na cabeça?

- Mas que é afinal? Eu não entendo - dizia embaraçada, D. Vitória.

- É uma coisa muito simples - respondeu Henrique. - Augusto sentiu o efeito dos encantos da minha prima Madalena, mas sentiu-os a ponto de ligar a eles a sua felicidade, e de cair em adoração para com a magnetizadora.

Esta explicação foi recebida com espanto por D. Vitória.

- Ora! Está a brincar, primo Henrique! Não ouve aquilo, prima Doroteia?

- Mas que é, que é? - perguntou esta.

- Diz que o Augusto aspirava...

- Perdão, eu disse que Augusto adorava e não aspirava. Quem pode tomar contas a um coração do culto que ele guarda religiosamente em si? A prima Lena é adorada por aquele rapaz, isso afirmo eu, porém...

- É possível! - exclamou também D. Doroteia, espantada. - Por essa não esperava eu. Olhem para o que lhe havia de dar! Pobre Augusto!

O conselheiro ria ainda da notícia que recebera.

Madalena corou ao ouvir todas aquelas exclamações de estranheza.

Cedendo ao impulso enérgico do seu carácter impetuoso e apaixonado, disse com vivacidade:

- Não sei que haja no que diz o primo Henrique nada que mereça esses espantos. Pois quem sou eu afinal? Que distância me separa da humanidade, para que se tenha por um desacato uma afeição que inspire? É verdade.





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