A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 504 / 508

Há argumento mais convincente do que este? Conhecem arma mais poderosa contra as severidades de um pai? O conselheiro beijou também paternalmente nas faces a filha, e, voltando-se depois para Augusto, disse-lhe em tom de voz quase afectuoso:

- Augusto, vou confiar-lhe a minha felicidade, confiando-lhe a felicidade da minha Lena. Vingue-se da injustiça e do mal que lhe fiz, tornando-ma venturosa. É a única vingança à altura da sua alma.

Augusto não teve tempo para responder. Se uns restos de orgulho tentassem lutar ainda com o amor, sufocá-los-iam os esforços combinados de Cristina, de D. Vitória e de D. Doroteia, que o arrastaram quase para junto do conselheiro.

E toda aquela família, em que não havia naquele momento um só coração triste, confundiu-se por algum tempo no mais desordenado, pueril e patético grupo, que pode desenhar um artista.

Para mais tocante confusão ainda, as crianças, que voltavam dos seus brinquedos na quinta, entraram então na sala, e de boa vontade se associaram àquela manifestação de alegria, sem querer saber o que a motivara.

São assim as crianças. Alegres por instinto, saúdam as cenas alegres sempre que as vêem, sentem-nas antes de as explicarem.

Foram inumeráveis os beijos, os abraços, as palavras de afecto, os sorrisos, as lágrimas, as exclamações pueris que se trocaram entre os diversos actores desta cena de família.

Chegado a este ponto da minha narração, nada melhor posso fazer do que deixar à imaginação dos leitores concluí-la.

Haverá algum tão malfadado que na sua vida não tenha visto representada uma cena assim? Esse mesmo, se existe, obriga-me a não prosseguir... O quadro, que a reproduzisse, exacerbar-lhe-ia o desconsolo da alma, de que por certo é vítima.

Paremos aqui





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