A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 4: IV Pág. 54 / 508

nomenclatura quase sempre absurda e de mau gosto, teve depois a imprópria e desastrada denominação de zuavo! A surpresa de Henrique não passou despercebida a quem era causa dela e que lhe correspondeu com um gesto de curiosa interrogação.

- Perdão, minha senhora - disse Henrique, compreendendo aquele gesto -, mas ignorava que vinha encontrar uma pessoa que já me não era estranha.

- E sou eu essa pessoa?

- É V. Ex.ª efectivamente.

- Pois já nos vimos?

- Já... quero dizer, eu já vi V. Ex.ª.

- Pode ser; pela minha parte confesso-lhe que me não lembra de o ter visto nunca. Apesar disso, sei que é o Sr. Henrique de Souselas, sobrinho daquela boa senhora de Alvapenha, a tia Doroteia; não é verdade?

- Eu próprio. O conhecimento que tenho de V. Ex.ª não é antigo também; data de algumas horas apenas.

A interlocutora de Henrique, ouvindo isto, contraiu levemente as sobrancelhas bem desenhadas, fez um movimento de lábios e deu à cabeça uma ligeira inclinação sobre o ombro, donde resultou para aquela gentil fisionomia a mais adorável expressão de estranheza que pode animar um semblante de mulher.

- Esta manhã - prosseguiu Henrique, a quem os encantos daquele gesto não tinham passado despercebidos - assisti a uma cena comovente. O lugar era uma devesa; uma jovem senhora... jovem e... e com outras qualidades, além desta, para excitar atenções, lia, em voz alta, as cartas que algumas pobres mulheres do povo acabavam de receber pelo correio... Ela não o deixou continuar.

- Ah! Entendo agora. Viu-me? Já andava por fora? Não o supunha assim madrugador. Mas onde estava tão escondido? Vejo que é indiscreto... Não admira: hábitos da cidade. É verdade, é. Aquela gente encontrou-me no caminho, quando eu voltava de uma visita a uns parentes pobres, e não me deixou sem que eu lhe abrandasse a ânsia do coração, que a afligia.





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