A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 5: V Pág. 72 / 508

Acredito-o. Os hábitos da civilização afeiçoam a seu modo a natureza humana e criam moléstias novas, que, nem por isso, são menos naturais. Mas que quer, primo? A minha estranheza, ao ver um desses doentes em plena aldeia, não é modificada por todas estas considerações. É como um homem de casaca e gravata branca; não há nada mais sério e grave numa sala de baile, mas coloque-mo num monte, e diga se o pode olhar a sério.

- Quer dizer que não devo queixar-me aqui, sob pena de zombarem de mim.

- Tanto não digo; mas não o entenderão; isso não.

- Porém a minha doença não é só dessas que se não dão na aldeia, prima Madalena; eu creio que verdadeiras desordens orgânicas...

- Ah! também? Com esse aspecto de robustez?!...

- Se eu sei o que tu estás aí a dizer, Lena! - disse D. Vitória, que não tinha percebido bem o diálogo.

- É que eu, minha tia, teimei em fazer perder ao primo Henrique todos os maus hábitos de cidade, com que veio para aqui. Sem isso não pode curar-se.

- Sujeitar-me-ei da melhor vontade a tão agradável domínio.

- Principia mal, se principia com uma fineza. Já o avisei há pouco...

- Será necessário tornar-me grosseiro, para me salvar? Nesse caso renuncio à cura.

- Grosseiro, não; basta que seja razoável e sobretudo...

- Acabe.

- Acabo? Eu sei? Eu às vezes sou sincera de mais.

- Eu adoro as sinceridades.

- Já que o quer... É preciso que seja razoável e sobretudo... desafectado.

Henrique de Souselas mordeu ligeiramente os lábios, corando.

- Então acha?...

- Acho que está sempre a imaginar-se num salão; faz uns gastos de galanteria, desnecessários e perdidos.

- Ó meninos, eu não vos entendo! - repetia D. Vitória.

Madalena sorriu.

- Digo eu que... Um criado, entrando com as cartas do correio, não a deixou continuar.





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