A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 6: VI Pág. 86 / 508

em responder que nada tinha que o afligisse, que era ilusão de quem o via a tristeza que lhe supunham, e, para confirmar o que dizia, ria, mas era mais triste aquele riso do que o pranto em que se desafogasse.

Para breve estava a entrada de Augusto no colégio de Lisboa, onde, à custa do legado da defunta proprietária dos Canaviais, devia continuar os seus estudos, quando o rapaz pediu para ficar algum tempo na aldeia. Não se pôde atinar com os motivos deste pedido. Indolência não era; pois, no entretanto, começou a estudar os rudimentos de latim com o ilustre professor, que o leitor conhece já, mestre Bento Pertunhas.

A saúde vacilante da mãe de Augusto declinou nesse Inverno; o que veio dar outro motivo à demora do filho.

Dias e dias passou o pobre rapaz sentado à cabeceira do leito, dividindo os seus cuidados entre o estudo e os carinhos pela estremecida enferma. Dois anos se passaram desta vida, e, quando, ao fim deles, Augusto abandonou aquele leito, foi depondo um beijo nas faces geladas de um cadáver.

Era órfão.

A vaga sombra de melancolia, que já lhe toldava o rosto, condensou- se-lhe mais então. Era quase um negrume de tristeza.

Por esse tempo, veio o conselheiro trazer Madalena para a aldeia, pois receava pela saúde dela, se persistisse em Lisboa.

O conselheiro propunha-se levar consigo Augusto, quando voltasse a Lisboa. Uma manhã, porém, este, de pouco mais de quinze anos, procurou-o e disse-lhe com uma gravidade que revelava uma tenção meditada e irrevogável:

- Venho prevenir V. Ex.ª de que desisto do legado da Sr.ª Morgada.

Não quero ordenar-me.

O conselheiro fitou-o, estupefacto.

- Não queres ordenar-te! Porquê?

- Já não tenho mãe a quem amparar. Por ela forçaria a minha vocação sem remorsos; por interesse próprio não o posso fazer; parece-me um sacrilégio.





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