A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 6: VI Pág. 88 / 508

Fez a Augusto uma longa dissertação sobre as vantagens da vida eclesiástica, sobre os muitos interesses que lhe prometia, e a leviandade com que ele queria renunciar a uma carreira segura, movido pelas instigações de um espírito timorato ou de uma visão fantástica.

Augusto insistiu. Sem corar perante o sorriso céptico do conselheiro, declarou que não abraçaria a vida eclesiástica sem que se sentisse com a coragem precisa para cumprir todos os deveres que ela lhe impunha; que era precisa uma grande abnegação, e que ele, depois da morte de sua mãe, não tinha a certeza de a conseguir.

Nos interesses não pensava, e, se pensasse, seria isso a primeira prova de não estar preparado para a missão de que se queria encarregar.

Quando alguém abraça com lealdade e franqueza uma boa causa, dificilmente é vencido. O conselheiro, costumado a não recuar nas mais acerbas lutas do Parlamento, calou-se dentro em pouco às objecções daquela criança. Como que teve remorsos de tentar sequer desvanecer as ilusões a que o via abraçado, - ilusões pelo menos as supunha ele; parecia-lhe uma obra satânica envenenar com um sorriso aquele ideal, em que vivia. - Respeitou-o e calou-se.

- Alguma criancice amorosa dos quinze anos - pensou para si. - Deixemos ao tempo convencê-lo. Não me encarregarei eu desse papel, que é pouco simpático. Quem me restituirá aquelas canduras! Teria alcançado menos no mundo, mas talvez tivesse gozado mais... ou melhor... O conselheiro cedeu aparentemente, esperando que a reflexão modificaria, mais tarde, as ideias do rapaz.

Exigiu dele que a ninguém anunciasse as tenções em que estava de se não ordenar, pelo menos enquanto não passasse mais tempo sobre aquela resolução.

E, uma vez que ficava na terra, pediu-lhe o conselheiro que se encarregasse da primeira educação de Ângelo, então de nove anos; pois mais confiava para isso em Augusto do que no professor oficial.





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