A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 6: VI Pág. 92 / 508

Mas, ao fim de três anos, Augusto, apesar de por experiência conhecer já os espinhos da profissão, apresentou-se novamente ao concurso para obter novo despacho. Na época em que abrimos esta narração voltara Augusto de pouco de ultimar a nova prova; e estava pendente ainda a decisão do ministério competente. Desta vez tivera um competidor, homem muito protegido por influências da localidade, as quais ainda não tinham podido vencer a do conselheiro, que pugnava por Augusto.

Desde que fora para Lisboa, Ângelo não se esquecera de escrever amiudadas vezes a Augusto, contando-lhe dos seus estudos, e descrevendo-lhe a sua vida na capital; e, quando vinha a férias, procurava transmitir ao que fora seu mestre a ciência que durante o ano adquirira.

Foi assim que Augusto começou a estudar a língua inglesa, a Geografia e a História.

Recebido o primeiro impulso, a sua inteligência e aplicação faziam o resto.

Um homem que havia na aldeia e com quem cedo teremos de travar conhecimento, um velho ervanário, para alguns um sábio, para outros um louco, para todos um homem honrado, concorreu também, com o seu contingente, para a educação de Augusto.

De tempos a tempos, este velho misterioso apresentava-se em casa dele com um pacote de livros debaixo do braço e, sorrindo, pousava-lhos em cima da mesa.

Eram quase sempre aqueles que Augusto mostrava ou sentia mais desejos de possuir. Da primeira vez, Augusto fitou o ervanário com espanto. Ninguém o supunha rico: como podia ele, pois, obter aqueles livros, alguns dos quais eram de preço? O velho, porém, disse-lhe, ao perceber-lhe a surpresa:

- Não queiras saber da minha vida, rapaz. Supõe que eu tenho a servir-me uma vara de condão ou uma fada qualquer, e deixa correr.

Augusto acabou por persuadir-se de que o ervanário tinha acumulado riquezas, à força de economias; porque de economias vivera sempre.





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