A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 7: VII Pág. 99 / 508

Tiago o abade que foi... e que Deus tenha em descanso. Não faltou nada... correram-se banhos diante de quem os quis ouvir, e não houve quem pusesse impedimento... porque eu não devia nada a ninguém... sempre fui liso de contas... Sou casado com a Cat’rina do Nascimento de S. João Baptista, filha do António Canhestro, do lugar dos Fojos... E casado para quê?... Faz favor de me dizer?... Para que casei eu?... Forte desgraça a minha! Casei-me para isto!... Para vir para casa e achá-la vazia, o lume apagado e o caldo na horta... e a mulher a papar missas e novenas lá por essas igrejas... Ora, senhores, que é forte desgraça a minha! É forte desgraça!... Bem morria eu de frio e de fraqueza, se não fosse aquele quartilhito... o último, que sempre me deu sua aquela... sim... sempre me aconchegou o estômago.

Não que dizem que o vinho que faz, que o vinho que acontece. Pois casem-se com uma mulher que vá de madrugada para a igreja e venha de lá quando muito bem lhe pareça, e verão depois se o vinho não serve de cobrir muita lazeira que se sofre... verão depois... Ora, senhores, que é forte desgraça a minha!... Diz que Deus que disse que a mulher que era a carne da nossa carne e o osso do nosso osso... Deus devia de vez em quando tornar a dizer estas coisas... para não esquecerem... como se faz na escola com a tabuada. A minha Cat’rina já o não sabe, aposto... e pelos modos os padres não lhe dizem isto na igreja... pois deviam dizer!... A carne da minha carne e osso do meu osso!... Mas é carne e osso que me não fazem caldo... Ora, senhores, que é forte desgraça a minha!... Como há-de um homem, se isto assim continua, pegar na enxada para dar uma cavadela, ou fazer qualquer sachada?... E também quero ver como hei-de no arraial e procissão de Santo Amaro, que não tarda aí, dar sequer um rufo assim mais tal.





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