As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 128 / 174

Tirou de lá vinte ou trinta dólares para si próprio, outro tanto para Injun Joe, e em seguida passou-lhe o saco. Joe estava de joelhos ao canto, esforçando-se por abrir um buraco com uma navalha de ponta curva.

Os rapazes esqueceram todos os seus receios e tristezas num momento.

Com olhos sequiosos vigiavam todos os movimentos dos dois homens no andar inferior. O esplendor do que viam ia muito além do que tinham suposto. Seiscentos dólares era mais do que suficiente para tornar ricos dois rapazes como eles. Aquilo sim, era um tesouro e não uma incerteza. Acotovelavam-se a cada instante, e essas cotoveladas eloquentes eram fáceis de compreender, porque significavam simplesmente isto: «Foi bom termos cá ficado, não foi?!»

Em certa altura, a navalha de Joe bateu numa coisa.

- Olá! - disse este.

- Que é? - perguntou o companheiro.

- Uma tábua meio apodrecida. Não, não! É uma caixa. Ajuda aqui, para ver se conseguimos tirar isto para fora. Olha, não é preciso, porque já abri um buraco no que quer que seja.

Estendeu a mão e, ao tirá-la para fora, exclamou:

- Isto é dinheiro.

Os dois homens examinaram aquela mão-cheia de moedas de ouro.

No andar de cima os rapazes estavam tão encantados como os homens.

O camarada de Joe alvitrou:

- Temos de nos despachar. Ali no canto, por entre as ervas, está uma picareta e uma enxada, que vi ainda há um minuto.

Mal disse isto, correu e trouxe a picareta e a enxada dos rapazes. Injun Joe pegou na picareta, olhou para ela com atenção, resmungou qualquer coisa e começou a trabalhar. Passados momentos tiraram a caixa para fora. Era pequena, feita de ferro, e devia ter sido resistente antes de estar ali durante anos a enferrujar. Silenciosos e contentes, os homens contemplaram o tesouro.

- Devem estar aqui milhares de dólares! - comentou Injun Joe.

- Sempre se disse que a quadrilha de Murrel andou por aqui um Verão - observou o outro.

- Sim, e por isto parece que o que se dizia tinha fundamento.

- Agora já não há necessidade de fazer aquele trabalho.

O mestiço franziu o sobrolho e retorquiu:

- Não me conheces, ou então não sabes o que estás a dizer. Não se trata apenas dum roubo, mas também duma vingança! - disse o outro, com um brilho cruel no olhar. - Hei-de precisar da tua ajuda e, quando tudo estiver acabado, vamos para o Texas. Volta para a tua Nance e para os teus filhos e deixa-te ficar por lá até receberes notícias minhas.

- Se assim o queres... E agora, que vamos fazer disto? Enterramos tudo outra vez?





Os capítulos deste livro