As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 174

- Alguns rapazes puseram a cabeça debaixo da bomba. Eu fui um deles e a minha ainda está húmida. Ora apalpe.

A tia Poliu sentiu-se vexada ao aperceber-se de que tinha esquecido aquela prova, por onde devia mesmo ter principiado. Mas logo teve nova inspiração.

- Tom, não tiveste que descoser o colarinho no sítio em que cosi? Desabotoa o casaco.

Tom respirou fundo. Abriu o casaco e mostrou o colarinho cosido.

- Que maçada! Tira-te daqui. Estava certa de que tinhas faltado à escola e andado a nadar. Perdoo-te, Tom. Reconheço que te acusei injustamente. És melhor do que pareces.

Estava entre triste, por ver que a sua sagacidade tinha falhado, mas ao mesmo tempo alegre, por reconhecer que Tom tinha sido obediente, pelo menos por uma vez. Mas Sidney disse:

- Parecia-me que a tia lhe tinha cosido o colarinho com linha branca. Afinal foi com preta.

- Cosi com branca, Tom.

Porém, Tom não esperou pelo resto, e, no momento em que ia a sair da porta, prometeu:

- Hei-de dar-te uma chibatada por conta disso, Siddy.

Em lugar seguro, Tom examinou duas grandes agulhas que tinha pregado na lapela do casaco com linha enrolada à volta. Uma estava enfiada de branco e outra de preto.

- Ela nunca teria dado por isso, se não fosse Sid, o Maldito costume!

«Umas vezes cose-me o colarinho com branco, outras vezes com preto. Porque demónio não escolherá ela uma ou outra? Assim não lhe dou vencimento. O que garanto é que hei-de sovar Sid por conta disto. Há-de aprender! »

Ele não era o rapaz modelo da aldeia. Sabia perfeitamente quem merecia esse nome e detestava-o.

Dentro de dois minutos ou talvez menos tinha esquecido todas estas preocupações, não porque as suas dificuldades fossem menos pesadas e amargas para ele do que as de um homem para esse homem, mas porque um interesse novo e agudo as venceu e desterrou da sua mente por algum tempo, exactamente como as desgraças dos homens passam para segundo plano na excitação de novos empreendimentos. Este novo interesse era um curioso modo de assobiar, que um negro lhe ensinara e que estava ansioso por praticar à vontade. Consistia em imitar a voz dos pássaros, uma espécie de gorjeio produzido pelo toque da língua no céu da boca, com pequenos intervalos, enquanto assobiava com os lábios. Se o leitor já foi rapaz lembra-se provavelmente de como se faz isso.





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