As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 34 / 174

- Pega-se na fava e abre-se ao meio; corta-se a verruga para fazer deitar sangue numa das metades da fava. Depois, à meia-noite, durante o quarto minguante, abre-se um buraco numa encruzilhada; enterra-se essa metade e queima-se a outra. Está bem de ver que o bocado que tem o sangue fica sempre a puxar pelo outro, e isso faz sair o sangue da verruga, que acaba por cair.

- É tal e qual, Huck. É tal e qual. E ainda melhor se se disser enquanto se enterra a fava: «Para baixo, fava, para fora verruga, nunca mais me atormentes.» É assim que faz Joe Harper e ele já esteve perto de Coonville e em muitos outros sítios. E como é que tu as curas com gatos mortos?

- Pega-se no gato e vai-se ao cemitério, perto da meia-noite, quando tenham enterrado uma pessoa má; à meia-noite vem um diabo, ou dois, ou três; nós não os vemos, mas ouvimos um barulho que parece vento e às vezes ouvimo-los falar. Quando estão a tirar o morto da cova atira-se-lhes com o gato para cima e diz-se: «Diabo segue o morto, gato segue o diabo, verrugas sigam o gato e não me atormentem.» Assim, saem as verrugas todas.

- Isso parece-me muito bom. Já experimentaste, Huck?

- Não. Foi a tia Hopkins quem me disse.

- Então deve ser verdade. Eles até dizem que ela é bruxa.

- E é, Tom; eu sei que é. Ela até deitou mau-olhado ao meu pai. Foi ele que o disse. Viu-a um dia deitar-lhe mau-olhado, por isso pegou numa pedra e atirou-lha. Se ela não se tivesse afastado, acertava-lhe. Pois nessa mesma noite o meu pai caiu de um telhado, onde se tinha deitado bêbedo, e partiu um braço.

- Isso é horrível! Como sabe ele que ela lhe deitou mau-olhado?

- Percebe-se muito bem. O meu pai diz que ela esteve a olhar para ele imenso tempo. Sempre que as pessoas nos fitam, deitam-nos mau-olhado. Ainda é pior se estão a mexer os beiços, estão a rezar as orações de trás para diante.

- Quando vais experimentar o gato, Huck?

- Logo à noite. Calculo que os diabos vão hoje buscar Hoss Williams.

- Mas ele foi enterrado no sábado... Não teriam ido buscá-lo no sábado à noite?

- Que disparate! Não podiam ir antes da meia-noite e depois foi domingo. Os diabos não andam por aí ao domingo, creio eu.

- Não me lembrava disso, mas é verdade. Deixa-me ir contigo.

- Deixo. Não tens medo?

- Medo? Não me parece. Mias?

- Sim, e tu respondes, se puderes. Da última vez deixaste-me ficar até que os velhos Hays me atiraram pedras e me disseram: «Maldito gato!» Depois atirei eu com um tijolo à janela deles, mas não digas nada.





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