As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 36 / 174

Ocupou pois o seu lugar, num extremo, e, com um trejeito, a pequena afastou-se para a outra ponta. Entre todos os pequenos se trocaram cotoveladas, piscadelas de olho e segredos, mas Tom sentou-se muito calado, com os braços em cima da carteira na sua frente, e pareceu absorto no livro. Pouco a pouco a atenção dos outros desviou-se e começou de novo a ouvir-se o murmúrio habitual. Passados instantes, Tom principiou a deitar furtivamente os olhos para a pequena. Vendo isto, ela fez-lhe uma careta e virou-se para o outro lado; quando em seguida se voltou, tinha na sua frente um pêssego. Afastou-o, mas Tom tornou a pô-lo lá. Desta vez rejeitou-o com menos animosidade; pacientemente, Tom colocou-o diante dela e escreveu na pedra: «Faz favor de o aceitar - tenho mais.» A pequena olhou para as palavras mas ficou na mesma, e Tom começou a desenhar uma coisa na pedra, procurando esconder o seu trabalho com a mão esquerda. Por uns momentos a pequena fingiu não dar por isso, mas a curiosidade foi mais forte e ela fez um movimento para espreitar. Tom continuou a desenhar, até que a pequena, dando-se por vencida, pediu em segredo:

- Deixa-me ver.

Tom mostrou parte da triste caricatura de uma casa, com duas abas de telhado e uma espiral de fumo a sair da chaminé. Então, já interessadíssima, esqueceu-se do resto e, quando Tom acabou o desenho, olhou-o atentamente um instante e disse:

- Está bonito. Vê lá se és capaz de fazer um homem.

O artista desenhou um homem em frente da casa, um homem que parecia um guindaste. Tinha as pernas tão altas que podia saltar por cima da casa, mas a pequena não era exigente e, satisfeita com o monstro, segredou:

- O homem é bonito! Agora põe aí o meu retrato.

Tom desenhou uma ampulheta com uma lua-cheia em cima e braços e pernas de palha. Nas mãos, de dedos abertos, colocou-lhe um leque enorme.

A pequena comentou:

- Está tudo tão bonito! Gostava de saber desenhar.

- É difícil! - segredou Tom. - Eu ensino-te.

- És capaz disso? Quando?

- Ao meio-dia. Vais a casa almoçar?

- Fico, se tu ficares.

- Está bem, está combinado. Como te chamas?

- Becky Thatcher. E tu? Ah! Já sei. Thomas Sawyer.

- Isso é o nome que eles me chamam para me bater, mas quando sou bom rapaz sou Tom. Chamas-me Tom, sim?

-Chamo.





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