As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 174

- Se me maças muito com esse palavreado, atiro-te com uma pedra à cabeça.

- Ah! Com certeza que sim.

- Pois claro que atiro.

- Então por que não atiras? Para que estás há que tempos a ameaçar se não o fazes? Tens medo.

- Não tenho medo!

- Tens.

- Não tenho.

-Tens.

Outra pausa em que ambos continuaram a olhar-se e a olhar em volta. Instantes depois estavam lado a lado e Tom disse:

- Tira-te daqui.

- Tira-te tu.

- Não tiro.

-Também eu não.

Assim ficaram os dois, a pequena distância um do outro, empurrando-se com toda a força e olhando-se rancorosamente. Nenhum quis ceder e, depois de lutarem até ambos estarem suados e vermelhos, largaram-se, vigiando-se cautelosamente um ao outro, e Tom disse:

- És um cobarde e um cachorro. Hei-de fazer queixa de ti ao meu irmão mais velho, que é capaz de te esborrachar só com um dedo, e hei-de pedir-lhe que te bata.

- A mim que me importa o teu irmão mais velho? Tenho um ainda mais crescido do que ele, e que é capaz de te atirar por cima daquele tapume.

(Ambos os irmãos eram imaginários.)

- É mentira.

- Isso era o que tu querias, que fosse mentira.

Tom fez com o dedo grande do pé um risco no chão e disse:

- Se dás um passo para cá dou-te uma sova que nem te tens em pé. Seja quem for que se atreva, apanha!

O recém-chegado passou prontamente por cima do risco e respondeu:

- Sempre quero ver se és capaz de fazer o que prometes.

- Sai da minha vista; deixa-me em paz.

- Disseste que me batias; por que não bates?

- Com certeza que bato e não custa caro...

Então o desconhecido tirou da algibeira duas moedas de cobre e ofereceu-as, desdenhosamente, ao outro. Tom empurrou-as para o chão e no mesmo instante ambos os rapazes rolaram e espernearam na rua, agarrados um ao outro como gatos. Talvez durante um minuto, socaram-se, puxaram o nariz e o cabelo um do outro, rasgaram o fato, cobrindo-se assim de poeira e de glória. Pouco depois a luta entrou em nova fase e, no ardor do combate, Tom apareceu escarranchado no outro, socando-o com os punhos fechados.

- Toma! Toma!

O rapaz procurava libertar-se e chorava, principalmente de raiva.

-Toma!

E a pancadaria continuava.

- Basta...

- Isto é para saberes. Para a outra vez vê primeiro com quem te metes.

O desconhecido afastou-se, sacudindo o pó do fato, soluçando e fungando; de quando em quando olhava para trás com um movimento de cabeça que representava uma ameaça do que faria a Tom na primeira ocasião em que o apanhasse a jeito.





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