As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 85 / 174

Nessa noite, pouco falaram durante a ceia. Entreolharam-se com um ar humilde, e quando, no fim da refeição, Huck, depois de preparar o seu cachimbo, ia preparar os deles, disseram que não, que se sentiam indispostos porque o jantar lhes não assentara bem.

Cerca da meia-noite, Joe acordou e chamou os outros; procuraram a companhia amiga do lume, embora não corresse uma brisa e o calor fosse sufocante. Sentaram-se muito calados e esperaram.

A solene quietação continuou. Para além da zona de luz em volta da fogueira, estava tudo imerso em trevas. Passados momentos, uma claridade vacilante revelou a folhagem, para logo desaparecer. Pouco depois reflectiu-se uma e outra vez, sempre com mais intensidade. Ouviu-se muito ao longe um ruído vago e um sopro perpassou através da floresta; os rapazes estremeceram, pensando que o Espírito da Noite andava perto. Houve uma pausa. Um relâmpago enorme iluminou tudo, dando relevo até à mais pequena folha de relva e mostrando três caras brancas de pavor. Ouviu-se um trovão que foi ribombando até se perder tristemente a uma grande distância. Passou uma aragem fria que levou diante de si as folhas e gelou a cinza espalhada à volta do lume. Outro clarão iluminou a floresta, ao mesmo tempo que um ruído seco parecia cortar o cimo das árvores por sobre as cabeças dos rapazes. No meio da escuridão agarraram-se uns aos outros, aterrados. Começaram a cair grossos pingos de água.

- Depressa, rapazes, vamos para a nossa tenda! - exclamou Tom.

Dispersaram-se, aos tropeções nas raízes e nas trepadeiras, por entre a escuridão. A tempestade rugia, fazendo vergar tudo o que encontrava no seu caminho. Os clarões seguiam-se uns aos outros, bem como os trovões. A chuva era torrencial e, impelida pelo vento, abria sulcos na terra. Os rapazes gritavam uns pelos outros, mas o ruído do vento e dos trovões cobria por completo as suas vozes. Assim mesmo, um a um, lá entraram a abrigar-se sob a tenda, frios, arranhados e a escorrer água, mas, se alguma coisa podia haver de bom naquela triste situação, era verem-se acompanhados. Não podiam ouvir-se, porque, ainda mesmo que não houvesse outros ruídos, a vela batia fortemente, impelida pelo vento. A tempestade era cada vez mais violenta e, por fim, a pobre tenda rasgou-se e foi levada pelo vento. De mãos dadas, os rapazes fugiram aos trambolhões e foram procurar abrigo junto de um grande carvalho na margem do rio. A batalha chegara ao seu auge.





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