As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 86 / 174

À luz dos relâmpagos que riscavam o céu, tudo em volta se destacava com nitidez, tudo tinha um relevo através do véu da chuva: as árvores curvadas, o rio encapelado e branco de espuma, os recortes dos rochedos na outra margem.

A cada momento uma árvore gigantesca tombava vencida pelos elementos, partindo as outras em volta, e os trovões, mais fracos a princípio, eram agora estampidos secos e terríveis.

A tempestade na sua força máxima parecia a um tempo despedaçar a ilha, queimá-la, inundá-la até ao cimo das árvores, fazê-la ir pelos ares e ensurdecer todos os seres vivos que ali existiam.

Nunca na sua vida os rapazes esqueceriam aquela trágica noite passada na floresta.

Finalmente, a batalha terminou e as forças retiraram; as ameaças foram enfraquecendo e a paz voltou a reinar. Embora assustados, os rapazes tornaram ao acampamento, mas acharam que ainda tinham de dar graças a Deus, porque o grande sicômoro que abrigara as suas camas estava agora derrubado pela tempestade e eles encontravam-se longe quando isso acontecera.

Tudo no acampamento estava ensopado, incluindo a fogueira, porque eles tinham sido estouvados, como todos os da sua idade, e não se haviam prevenido contra a chuva. Tinham razão para se preocupar, pois estavam molhados e corri frio. Na sua desgraça mostraram-se eloquentes, mas logo descobriram que o lume tinha consumido a parte de baixo do tronco, junto do qual o tinham acendido - no sítio em que este fazia uma curva um pouco acima do chão. Assim, havia um bocado que se não molhara; com muita paciência juntaram bocadinhos de madeira, que lhes pareceu mais seca, e esforçaram-se por reacender o lume. Quando o conseguiram foram empilhando troncos maiores, até que as labaredas voltaram a crepitar e puderam aquecer-se. Secaram o que lhes restava de presunto, comeram e depois ficaram sentados junto do lume a falar da sua aventura até de manhã, pois não havia um palmo de terreno seco onde se deitassem para dormir.

Quando o Sol se ergueu, os rapazes começaram a sentir sono e foram deitar-se no banco de areia. Daí a bocado o calor era intenso e decidiram almoçar. Finda a refeição, sentiram as articulações presas, e uma vez mais se lembraram da família com tristeza. Tom percebeu e fez o possível por alegrá-los conforme pôde, mas nenhum deles se interessava já por berlindes, pelo circo, pela natação ou pelo que quer que fosse. Falou-lhes no segredo e o rosto iluminou-se-lhes.





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