As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 9 / 174

Como a rota do navio estivesse a terminar, encaminhou-se vagarosamente para o passeio.

- Puxem para trás! Tlim-tlim-tlingue!

Endireitou os braços e esticou-os ao longo do corpo.

- Recuem para estibordo! Tlim-tlim-tlingue! T chau! T chau-tch-tchaul Tchau!

Entretanto, com a mão direita, descrevia grandes círculos, que faziam as vezes duma roda de quarenta pés.

- Façam recuar para bombordo! Tlim-tlim-tlinguel T chau! T ch-tchau-tchaul

A mão esquerda começou a descrever círculos.

- Parem a estibordo! Tlim-tlim-tlingue! Parem a bombordo! Avancem para estibordo! Parem! Deixem virar devagar! Tlim-tlim! Tlingue! T chau-tch-tch! Cuidado com o leme! Depressa, agora! Dois graus a bombordo! O que estão a fazer? Atem uma corda a esse tronco! Encostem agora e deixem seguir. Pararam as máquinas, capitão! Tlim-tlim-tlingue! Ch't! Ch't! Ch't!

(Este barulho era feito pelas caldeiras.)

Tom continuou a caiar sem fazer caso do barco a vapor. Ao fim de um momento, Ben disse:

- Ó pá! Estás atrapalhado?

Nem palavra. Tom olhava para as últimas pinceladas dadas, com um olhar de artista, depois pegou no pincel e deu outro retoque, tornando a olhar como antes. Ben pôs-se ao lado dele e Tom sentiu crescer água na boca só de olhar para a maçã, mas não parou de trabalhar.

Por fim Ben perguntou:

- Tens então de trabalhar, hem?

Tom voltou-se rapidamente.

- Ah! És tu, Ben! Não tinha dado por ti.

- Olha, vou nadar. Não gostavas de ir também? Já se vê, tens de fazer esse trabalho, não tens? Está claro que tens.

Tom olhou-o por momentos e por fim perguntou-lhe:

- A que é que tu chamas trabalho?

- Então isso não é trabalho?

Tom continuou a caiar e respondeu despreocupadamente:

- Talvez seja e talvez não. O que eu sei é que é muito do agrado de Tom Sawyer!

- Não me queres fazer acreditar que gostas disso. O pincel continuava a mover-se.

- Gostar disto? Não vejo por que não hei-de gostar. Nem todos os dias um rapaz como nós tem ocasião de pintar um tapume.

Isto punha as coisas noutro pé.

Ben parou de comer a maçã. Tom pintava cuidadosamente, movendo o pincel de um lado para o outro, dava um passo atrás para ver o efeito, retocava aqui e ali, tornava a ver o efeito e, entretanto, Ben olhava para tudo aquilo cada vez mais entretido, até que, passados momentos, disse:

- Deixas-me caiar um bocadinho, Tom?





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