As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 8 / 174

- Corta agora! Ela não bate em ninguém, quando muito dá-nos com o dedal na cabeça, e sempre gostava de saber quem se importa com isso. Diz coisas horríveis, mas o que ela diz não faz doer, pelo menos quando não grita. Dou-te uma coisa maravilhosa. Dou-te um abafador.

Jim hesitou.

- Um berlinde, Jim! E é um abafador.

- Ó Deus! Coisa maravilhosa também achar! Mas, menino Tom, Jim ter medo senhora velha.

- Além disso mostro-te o meu pé doente.

Jim não passava de um ser humano e esta tentação era demasiado forte para ele.

Pôs o balde no chão, pegou no berlinde e curvou-se cheio de interesse para o dedo doente, enquanto o outro tirava a ligadura. Mas passado um momento corria pela rua abaixo, com o balde na mão e um certo sítio a arder. Tom recomeçara a caiar e a tia Polly retirava-se do campo de batalha com uma pantufa na mão e um olhar triunfante.

A energia de Tom foi de pouca duração. Começou a pensar nos divertimentos que tinha planeado para aquele dia e a sua tristeza aumentou. Em breve passariam por ali os rapazes em liberdade, a caminho das mais encantadoras expedições, e iam fartar-se de fazer troça dele por ter de trabalhar. Só de pensar nisto sentia-se corar. Tirou do bolso toda a sua fortuna e examinou-a. Eram bocados de brinquedos, berlindes e lixo. Talvez chegasse para comprar uma troca de trabalho, mas não era nem metade do necessário para comprar meia hora de liberdade. Tornou, pois, a meter os seus escassos bens na algibeira e pôs de parte a ideia de tentar comprar os rapazes. Mas no mesmo momento de tristeza e desespero teve uma inspiração. Nada menos que uma grande e magnífica inspiração.

Pegou no pincel e pôs-se a trabalhar tranquilamente. Pouco depois apareceu por ali Ben Rogers. De entre todos os rapazes, temia a troça daquele mais do que de algum outro. Ben vinha a saltar e a pular, o que provava bem como estava alegre e como gozava antecipadamente o que ia fazer. Vinha a comer uma maçã e, de vez em quando, soltava um melodioso grito seguido por um dingue-dongue-dingue-dongue, com o qual personificava um barco a vapor. Ao aproximar-se abrandou a velocidade, caminhou pelo meio da rua inclinando-se para estibordo, deu uma volta larga e trabalhosa, pois que representava o «Big Missuri» e fazia de conta que navegava com três metros de água. Era, ao mesmo tempo, barco, capitão e sinetas, por isso se imaginava na ponte de comando dando ordens e executando-as.

- Parem! Tlim-tlim-tlingue!





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