- Olha, eu que digo?... Já o Manuel vai abrir o portão... Não ouves os pardais cantar?... É dia claro já... Havemos de chegar com sol à ermida, o que não tem graça nenhuma... Avia-te, Lena... Hás- -de ser a última a estar pronta... Aí vai já o Luís com o almoço... É que não chegamos lá senão ao meio dia. Ele aí vem! Eu bem o digo.
- Ele! Quem é esse «ele» que vem aí?
- Pois quem há-de ser? Então não é o primo Henrique que nos acompanha?
- É o primo Henrique, é o Sr. Augusto e é o Luís, que tua mãe teimou em mandar com o almoço. Não sabia qual dos três te merecia as honras de um «ele».
- Eu dizia o primo Henrique, que já aí está no pátio - disse Cristina, que nesta ocasião correspondia ao cumprimento, que o recém-chegado lhe fazia de baixo.
- Então com efeito já chegou? - perguntou a Morgadinha, admirada. - Bravo! Nunca o esperei. Ai, Criste, que me parece que ele também tem alguma coisa no coração!
- Também o julgo - respondeu Cristina, despeitada -; é ver como ontem te falou.
- Sossega. Quando o coração tem alguma coisa, não se fala assim com a pessoa que causou esse mal.
- Não sei o que ele me está a dizer - disse Cristina, olhando para o pátio. - Posso abrir a janela, Lena?
- Eu já estou preparada para sofrer todas as crueldades esta manhã. Abre lá a janela, abre. Fala-lhe.
Cristina correu a vidraça.
A voz de Henrique chegou distintamente aos ouvidos de Madalena.
- Então aquela grande madrugadora da nossa prima, onde está? - perguntou ele a Cristina.
Cristina respondeu, sorrindo:
- Está a fazer a diligência que pode para ficar pronta antes do meio-dia.
- Oh! que vingança a minha! Ela que tanto falou da minha indolência! - disse Henrique jovialmente, e continuou falando sempre de Madalena, e elevando a voz às vezes para se dirigir directamente a ela, mas sempre sem receber resposta.