ª D. Madalena, vive um filósofo - disse Augusto, indicando outro ponto da perspectiva.
- É verdade; o bom do Tio Vicente.
- Tio Vicente? Quem é o Tio Vicente? Temos mais algum tio, com que eu possa aumentar o meu parentesco na aldeia?
- O Tio Vicente é um santo velho, que se ocupa a colher ervas pelos montes e vales para fazer remédios, que dizem milagrosos.
Ainda é nosso parente, mas em grau muito arredado; contudo chamamos- lhe tio, assim como quase toda a gente por aqui.
- Que sombras negras são aquelas que se vêem no adro da igreja? - perguntou Cristina.
- Na igreja? Ah! acolá? É verdade, parece um cordão de formigas - disse Henrique de Souselas.
- São as mulheres que vão ouvir o missionário - respondeu a Morgadinha. - Escutem, lá está a tocar o sino.
Efectivamente chegavam ao alto do monte as débeis, mas sonoras badaladas do campanário da aldeia.
- A estas horas principiam as lamentações daquele pobre Zé P’reira, que tão mal olhado anda por a mulher, desde que ela deu nessas devoções - notou Augusto, sorrindo, a lembrar-se da cena doméstica a que na véspera assistira.
- Degenerou aquela mulher! - disse Madalena - e, se quer que lhe fale verdade, Sr. Augusto, custa-me ver o Cancela deixar a Lindita entregue assim a essa gente quando sai da terra. A pequena é tão apreensiva!
- Visto isso, já chegou aqui à aldeia a influência dos missionários? - perguntou Henrique.
- E não tem lavrado pouco! - tornou Madalena.
Cristina, que era um poucochinho devota, censurou timidamente as palavras da Morgadinha.
- Primo Henrique - disse ela - julgo que ainda será preciso o seu auxílio para livrar do contágio esta inocente Cristina.
- Pronto, prima Madalena; para as boas causas tenho sempre armada a minha vontade.