Uns mariolas!... E, como para desafogar o peso da sua amabilidade, despediu um pontapé a um podengo, que se lhe viera roçar por as pernas, e fê-lo sair ganindo.
- Dizem que vão principiar outra vez com os trabalhos das estradas - informou o taverneiro, enchendo de novo o copo ao Sr. Joãozinho.
- Pois que vejam no que se metem. Cautelinha comigo! - resmungou este. - Faço como daquela vez em que eu e a minha gente queimámos toda a papelada da Câmara e do escrivão da Fazenda.
- Agora no Inverno é que eles hão-de principiar com os trabalhos.
Sempre se fia em boa! - disse, encolhendo os ombros, mestre Pertunhas.
- Vossemecê é que está a ler - veio-lhe à mão o Brasileiro. - Então não sabe que as eleições são em Fevereiro?
- Ai, é verdade! não me tinha lembrado disso! - exclamou o padre.
- Também não sei como será desta vez essa história das eleições - acudiu o Sr. Joãozinho. - Cá eu e a minha gente ainda estamos a ver no que param as coisas. Eu já não estou para ser logrado. Até agora tenho dado ao conselheiro a freguesia em peso, sem pedir nada, ou, se pedi, foi o mesmo que não pedisse. Vou curar-me de tolo; agora sempre havemos de entrar aí nuns ajustes.
Se o homem não estiver cá por umas contas, não anda o filho de meu pai.
- Ora adeus! - disse o padre-cura. - O conselheiro tem artes para o levar.
- A mim? Está enganado. Não querendo eu? Então você não me conhece. Em eu embirrando, sou como um borrego teimoso.
- Quando se fala em estradas, já estou a tremer - disse um dos lavradores. - O que elas vêm cá fazer é cortar-nos os campos, e afinal não sei para que servem.
- Isso não é assim - atalhou o Brasileiro, tomando uns ares catedráticos, cheios de gravidade. - Vossemecê é ignorante e por isso é que fala desse modo.