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Capítulo 2: II

Página 23
O tecto era de almofadas de castanho, em tempos pintado de azul, agora de uma cor duvidosa. Havia quinze anos que D. Doroteia falava em o mandar retocar, mas o projecto, momentoso como era, ia sendo adiado de Primavera para Primavera.

Orlava a sala, no alto, um friso ou cornija saliente, onde coradas maçãs de Inverno aguardavam, em vistosa fileira, a completa maturação, e derramavam no aposento o mais agradável aroma. O pavimento, apesar de muito picado de caruncho, andava limpo e escafunado - termo do vocabulário de casa - que metia gosto vê-lo.

Cada parede era um museu de estampas de devoção. Poucos santos e santas da corte celestial não estavam ali representados e com um colorido, que era o maior pecado, a que estes bem-aventurados haviam dado lugar cá no mundo.

Lá se via Santa Quitéria e as suas sete companheiras; Santa Ana ensinando Nossa Senhora a ler; o Senhor dos Passos, venerado em S. João Novo, no Porto; o Bom Jesus de Bouças, representação da imagem, que, segundo reza a respectiva crónica, é obra das mãos de José de Nicodemo; os Santos Mártires de Marrocos, da igreja de S. Francisco, etc., etc. Sobre a cómoda de pau-preto era devotamente venerado o mais rubicundo, menineiro e bem disposto Santo António, que ainda modelaram as mãos de santeiro afamado.

E seja dito de passagem que não sei por que a tradição popular dá a este austero franciscano o aspecto chorudo de um moderno reitor de farta abadia de aldeia.

No interior da redoma onde se abrigava o santo estava estabelecido o museu de raridades da tia Doroteia. Eram flores artificiais, concharinhas e caramujos, um rosário de caroços de azeitonas, uns poucos de vinténs de prata, enfiados e pendentes do braço do Menino Jesus, que o santo sustentava ao colo, verónicas, escapulários, uma campainha benta, uma medida do braço do Senhor de Matosinhos, um pão do saco de Santa Isabel, que vai na procissão de Cinza, no Porto, e outros objectos curiosos.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 23

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506