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Capítulo 2: II

Página 24

A mobília da sala consistia em cadeiras de palhinha, que gemiam quando entravam em serviço, como militar cujas articulações o reumatismo invadiu; mesas cobertas com colchas de chita; baús cravados de pregaria amarela, disposta em letras e arabescos; uma papeleira de pau-santo, e uma gaiola com um canário decrépito, objecto, havia muitos anos, das tentações de um gato, mais decrépito do que ele e pertencente às classes inactivas.

Henrique, adivinhando, por todo aquele cheiro de beatitude e de antiguidade que ali se respirava, os hábitos da casa, sentia já certo desconforto, como de quem é arrancado de súbito ao ambiente em que se educou e vive, engolfado num ambiente estranho; espécie de asfixia moral, não menos angustiosa do que a do peixe fora da água.

A saudade que ao princípio sentira dissipara-se já. O perfume da saudade é como o de certas flores, que só se percebe quando de longe o recebemos. Se, iludidos, as tentamos aspirar de perto, dissipa- se.

Acontecera isto com Henrique.

Cada vez, portanto, se lhe radicava mais funda a crença de que não seria por muito tempo que se demoraria ali.

- Os emolientes do doutor - pensava ele, enquanto sua tia falava - serão eficazes para quem os puder sofrer sem enjoo, mas para mim...

No entretanto sentou-se.

- Ora o Henriquinho! - dizia ainda D. Doroteia, pondo-se de braços cruzados em contemplação defronte dele. - Ó menino, onde foste tu arranjar esses bigodes tamanhos? Então isso agora usa-se?

Pergunta que sobremaneira embaraçou Henrique.

- Quem quer usar, usa, tia. Não é obrigação - respondeu ele, com leve mau humor.

- Em nome do Padre e do Filho! - dizia Maria de Jesus, benzendo- se e tomando lugar ao lado da ama. - Até nem sei que parece lembrar-se a gente que trouxe este marmanjão ao colo!

O termo «marmanjão» não soou bem a Henrique.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 24

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506