Cruzou-se com vários homens, mulheres e crianças, de aspecto doentio e sofredor, que voltavam de consultar o velho a respeito dos seus males; eram mancos, ictéricos, escrofulosos, crianças de aspecto raquítico e enfezado, os mais melancólicos exemplares do infortúnio humano.
- São os peregrinos que vêm de Meca - disse consigo o conselheiro.
- Pelo que vejo, a clientela do meu velho amigo ervanário mantém-se fiel, como dantes. Valha-nos Deus, que o meu severo censor não trata com muito respeito o código.
Entrou, enfim, a porta do quintal.
Poucos passos andados encontrou-se com o Zé P’reira, que vinha virando e revirando nas mãos um papel e monologando, segundo o costume:
- Ora! ora! ora!... Estragar o vinho de Nosso Senhor com esta mexerufada! Isso até era um pecado. Nessa não caio eu! O conselheiro interrogou-o sobre as causas daquele aranzel.
O homem, depois de cortejar, respondeu, mostrando uma receita que lhe dera o ervanário no virtuoso intento de lhe fazer aborrecer o vinho, causa dos seus males. A receita era extraída da Polianteia, e tinha por ingredientes uma cabeça e sangue de carneiro, cabelos de homem e fígado de enguia; mas o doente ia pouco disposto a experimentar-lhe a eficácia.
Depois de se separar do Zé P’reira, o conselheiro seguiu por uma rua de limoeiros, e como homem a quem era familiar a topografia do quintal. Cedo chegou à vista do ervanário, que dera audiência sub tegmine fagi.
Estava sentado à borda de um tanque, a que uma dessas árvores dava sombra.
O conselheiro saiu, enfim, detrás dos limoeiros e veio ter com ele.
Ao rumor dos passos, Vicente voltou a cabeça, e, depois de reconhecer quem era, retomou a sua primeira posição e ficou silencioso.
- Bons dias, Vicente - disse o conselheiro com familiaridade e parando defronte dele.