Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: XVIII

Página 276
Mestre Pertunhas barafustava por entre os da banda, berrando, ralhando, cheio de cólera e de razão.

Uma sinfonia com quatro meses de ensaios! A falar verdade! Ordenadas as coisas, rompeu, enfim, a sinfonia.

Os tipos dos artistas, marcialmente uniformizados com fardas que foram de um corpo de infantaria, eram para tentar um lápis de um Cham ou Gavarni. Ali um gordo e rubicundo merceeiro, que ameaçava estalar todas as costuras da farda, primitivamente feita para um indivíduo de metade das dimensões dele, com as faces insufladas, a testa contraída e os olhos injectados para extrair de um obsoleto serpentão, que embocava com arreganho assustador, as mais destemperadas notas; acolá um flautim, de braços compridos e tíbias esquinadas, com meio braço fora das mangas, com meia perna fora das calças, figura em que havia não sei o que de onomatopaico, também se casava com os silvos, horripilantemente agudos, que arrancava do exíguo instrumento; o artista pratilheiro era um velho recurvado, de nariz adunco, faces escavadas, olhos de coruja, suíças em tufos no meio das faces, e óculos na ponta do nariz; um zarolha evacuava os pulmões dentro de um figle; um corcovado e semianão repicava os ferrinhos com uma prodigalidade assustadora; as baquetas da caixa estavam confiadas às mãos calosas de um moço de lavoura, de repas hirsutas a cobrir-lhe a testa, olhos esbugalhados e lábio pendente. E, no meio destas e análogas figuras, a alma de tudo, o Sr. Pertunhas, torcendo-se, batendo com o pé, suando, arregalando os olhos, piscando-os, marcando o compasso com a cabeça, armada da enorme trompa, que lhe dava então não sei que aparências de proboscidiano.

Tal era a filarmónica da terra, que Henrique, o conselheiro e toda a família do Mosteiro escutavam das janelas, à qual tiveram de dispensar elogios, que o regente aceitou com a modéstia de artista que se conhece.

<< Página Anterior

pág. 276 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 276

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506