Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: XVIII

Página 279

Aqui é que subia a toda a altura o génio dramático do Herodes. Para este final do monólogo reservava todos os segredos da arte; apoderava-se dele a musa do palco; desapareciam-lhe diante dos olhos os espectadores, via o mundo; perdia a consciência da individualidade própria; supunha-se Herodes; e até... ó força da arte! ofuscavam-se-lhe os bons instintos da índole generosa e quase chegava a ter verdadeira ânsia de sangue e de carnificina. O público era dominado por o artista, e, num destes silêncios que todos prevêem se desencadeará em brados de entusiasmo e frenesi, escutava- lhe as duas quadras finais:


Porém o furor me incita!

Dava, ao dizer isto, três passos à frente, desembainhava o alfange e abria os braços. Tinha o que quer que era de Adamastor, visto assim.


O brio dá-me ousadia

Levantava os braços acima da cabeça, espalmando a mão esquerda.


Para defender o ceptro
A favor da tirania!

Aqui agitava os braços como asas de moinhos.


Será cada lança um raio!

E, dizendo isto, tinha nos olhos o fulgurar do relâmpago.


Cada espada um corisco.

E o braço, armado do alfange, baixava com a rapidez do símile.


Cada soldado um trovão!

E trovejava-lhe a voz.


Cada golpe um basilisco.

E, na posição e gesto em que ficava, não era menos terrível e pavoroso do que a fera da comparação.

Uma tempestade de aplausos rompeu de todos os lados; só as mulheres e as crianças ficaram silenciosas e imóveis, porque lhes parecia um pecado aplaudirem Herodes. E não sei se o que fizera menos escrupulosa neste ponto a parte masculina fora o exemplo partido das janelas do Mosteiro; porque é certo que em geral os tiranos no palco são admirados, mas raras vezes aplaudidos.

Herodes, depois de agradecer os aplausos públicos, senta-se e segue o auto.

<< Página Anterior

pág. 279 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 279

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506