Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: XIX

Página 299
Os mordomos acudiram logo para afastarem o Zé P’reira dali para fora. Ele deixou-se ir, limitando-se a dizer mansamente:

- Ora, senhores, que é forte desgraça a minha. Então uma pessoa não pode dizer o que sente? Ia ele já fora da igreja e ainda se lhe ouvia a voz repetir:

- Ora, senhores, que é forte desgraça a minha! Quando, depois desta cena, o missionário passou por Henrique, murmurou este, em voz perceptível, ao ouvido da Morgadinha:

- Diga se este todo e este modo de tratar ovelhas não é mais de magarefe do que de pastor.

O missionário ouviu estas palavras, pois que se voltou como se uma víbora o picasse, e faiscou-lhe no olhar o fulgor de um ódio farisaico. Henrique arrostou-o com audácia provocadora.

O padre entrou para a sacristia.

No entretanto o auditório dispunha-se para escutar o sermão, o mais comodamente que era possível naquele pequeno recinto.

No fim de alguns minutos aparecia no púlpito a figura bem nutrida e pouco atraente do famigerado educador dos povos.

Fitou com sobranceria os ouvintes e com particular insistência fixou em Henrique, que lhe ficava fronteiro, um olhar, que ele sustentou com firmeza.

Esta tácita provocação durou alguns minutos, no fim dos quais poderia talvez, quem estivesse prevenido, distinguir nos lábios do padre um sorriso rancoroso e perceber-lhe um movimento de cabeça quase ameaçador.

Enfim soltou o texto latino do sermão.

Seguiu-se nova pausa e principiou.

Apesar do exemplo de Sterne, que não duvidou entressachar nas páginas humorísticas da Vida e Opiniões de Tristram Shandy, um sermão sobre a consciência, eu não ouso transcrever para aqui o modelo de eloquência sacra, recitado pelo missionário naquele dia.

Ainda se eu pudesse transmitir aos

<< Página Anterior

pág. 299 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 299

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506