- Não julgue que com essas ironias de mau gosto se esquivará a responder-me. Juro-lhe que hei-de obrigá-lo a falar com seriedade.
- E tem meios para isso?
- Faço-lhe a justiça de acreditar que sim; creio que ainda não estará tão envilecido que receba com um sorriso cínico o insulto que lhe infligir...
- É provável que não risse, no caso que diz; mas também não falava, acredite. Há, para interrogações dessas, respostas mais adequadas e discretas. Não tente; aconselho-o... Mas, valha-me Deus, quem lhe disse que eu não queria dar-lhe todas as explicações que souber? Sente-se, conversemos placidamente, que é a melhor maneira de ver claro as coisas. Não fuma?
Augusto, indignado com este frio sarcasmo, respondeu com veemência:
- Está-me causando tédio e compaixão ao mesmo tempo, senhor. Deve ter já uma alma bem corrompida para me receber assim. Ainda quando eu fosse um criminoso, se no seu carácter houvesse brio, dignidade e sentimento moral, devia a minha presença ser-lhe um espectáculo demasiado abjecto, para o não deixar sorrir, ainda que de sarcasmo; mas na incerteza em que está, em que deve estar por força, a só ideia de que pode caluniar um homem inocente, devia bastar para lhe fazer sentir toda a gravidade desta entrevista e obrigá-lo a atender-me como eu exijo ser atendido. Para não compreender isto, para não respeitar este sagrado direito que tem todo o acusado de se defender, é necessário estar corrompido até o fundo da alma. O cepticismo e a irreverência para com os outros só se dá em quem duvida de si próprio, e a si próprio se não respeita, porque se conhece. O senhor soube insinuar a calúnia no seio de uma família, cujos ânimos generosos não a receberam sem dor; e, quando o caluniado lhe vem pedir explicações,