- Quem tiver medo, que fique em casa. Ora quero mostrar a esta gente se há ou não há um homem para as ocasiões.
E estavam no meio da sala o Sr. Joãozinho e os seus arrojados camaradas, e o Brasileiro já conferenciava com o padre, que lhe respondia com sinais de inteligência, como quem tinha projectos filiados naquele movimento, quando entrou na taberna um novo personagem que, por não habitual ali, e por outras circunstâncias fáceis de conjecturar, causou geral estranheza.
Era Henrique de Souselas.
Tendo sabido da morte de Ermelinda e encontrando no Mosteiro todos ocupados com os aprestes do funeral da pequena, Henrique montou a cavalo e deu um longo passeio pelos arredores.
Na volta achou-se defronte da taberna do Canada.
Chegou-lhe aos ouvidos o rumor das altercações e das pragas que iam lá dentro, e isto resolveu-o a entrar, cumprindo, assim, a promessa que fizera a si mesmo de estudar aquele terreno, a ver se encontrava vestígios que o levassem a provar a inocência de Augusto.
Apeou-se, prendeu o cavalo ao peão da porta e entrou.
Ao entrar, percebeu que havia causado sensação a sua presença, e até, pela expressão com que o fitavam, suspeitou que talvez não fosse demasiado prudente o passo que dera.
Era tarde, porém, para recuar, e o orgulho impedia-lhe a menor manifestação de receio.
Sentou-se tranquilamente numa banca vazia.
O Canada, como taverneiro atencioso, veio informar-se pressurosamente do que desejava o recém-chegado.
Henrique pediu vinho, para pedir alguma coisa, não obstante estar firmemente resolvido a não lhe tocar.
O Canada trouxe-lhe um copo largo para diante dele, e de moto próprio associou-lhe algumas azeitonas, que recomendou como excitadoras da sede.
Henrique pediu lume para acender um charuto, e, pondo-se a fumar, correu a vista pelos grupos que enchiam a sala.