Reinava, porém, um rumor surdo, um cochichar pouco tranquilizador, e que ameaçava degenerar em maior tormenta.
O Brasileiro escondia-se por detrás de uns homens do povo, para não ser visto; o Sr. Joãozinho olhou para Henrique, como se o não conhecesse, e conversava em voz baixa com o seu camarada Cosme, o qual fitava no recém-chegado olhares sombrios e ameaçadores.
Henrique, ainda que interiormente não tranquilo, sustentava- -os sem desviar os seus e continuava fumando quase provocadoramente.
Pouco a pouco subiu de tom a conversa dos dois, assim como a dos outros grupos.
- É preciso ensinar estes espiões - dizia uma voz audivelmente.
- Que quererá daqui este figurão? - perguntava outro.
- Era bem feito que lhe ensinassem a não se meter com a nossa vida...
O morgado, cada vez mais excitado pelo vinho, cruzou os braços sobre a mesa, e com o corpo inclinado para diante e os olhos abertos para Henrique, principiou a dizer, retardando-se-lhe já algum tanto a voz nas fauces:
- Eu, se sei que há alguém que me anda a seguir os passos e a espiar, sempre lhe dou uma lição, que lhe há-de lembrar toda a vida! Não que isto aqui não é Lisboa! Eu não admito que se olhe para mim com falta de respeito... Já disse! Eu não gosto de repetir as coisas... Tenho dito! O senhor não ouve?
Henrique continuou a fumar, sem desviar os olhos do morgado.
- Ó senhor lá... Faz favor de não olhar para mim dessa maneira.
Henrique exalou uma baforada de fumo e sorriu.
- Você ri-se... Ele riu-se, ó Cosme? Pois ele riu-se de mim? Espera!
E o Sr. Joãozinho executou um movimento para levantar-se.
O Cosme imitou-o, e os camaradas puseram-se a postos.