- Está convencido de que o pode salvar, ela?
- Não há credo que professe com mais fé.
- Porque não vai então ajoelhar ao lado dela e jurar-lho?
- E consente?
- A Morgadinha respondeu-lhe, conduzindo-o ao princípio de umas estreitas escadas que, pela espessura da parede, iam do coro para a capela-mor.
- Aí tem o caminho - disse ela. - Siga-me.
E, servindo-se da lanterna de furta-fogo, foi descendo com precaução.
Henrique seguia-a.
No fim da escada, Madalena ocultou de novo a luz, e, dados mais alguns passos, parou junto de um reposteiro.
- Agora faça o que lhe ditar o coração - disse ela para Henrique.
Este correu o reposteiro com precaução, e achou-se na capela.
Cristina rezava ainda, e, como a porta por onde Henrique entrara ficava por detrás dela, não o viu chegar.
Henrique ficou a contemplá-la todo o tempo que ainda durou a oração.
Ao levantar-se, Cristina, voltando a cabeça, descobriu-o, e soltou um grito de susto. A obscuridade que havia na capela não lhe deixou perceber logo quem fosse, o que mais lhe aumentou o terror.
Henrique caminhou para ela, dizendo-lhe:
- Não tenha receio, Cristina. Sou eu.
Reconhecendo-o, a tímida rapariga ficou espantada. Como se explicava a presença de Henrique naquele lugar? Nem tempo teve de imaginar explicações; Henrique acrescentou:
- Sou eu, Cristina; eu a quem a menina salvou e por quem com tanto fervor veio rezar aqui. Obrigado, mais uma vez lhe digo: obrigado, Cristina. Quis fazer-me compreender todos os castos e abençoados prazeres da família; depois de me dedicar as suas vigílias, dedicou-me as suas orações. Deixe-me beijar-lhe a mão com todo o afecto, com toda a paixão que pode haver na minha alma.
E, dizendo isto, levou aos lábios a mão, que ela, de enleada, nem ousou retirar das suas.