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Capítulo 30: XXXI

Página 466

Se resiste e sobrevive, se não desfalece nem vacila, é porque é de essência mais elevada do que a humana.

Às vezes aquela ideia era tão irrealizável, aquele sonho tão quimérico, que a pobre devia estar prevenida para o perder um dia, e julgou que o estava.

Mas iludira-se. Se nos dermos de coração a uma quimera, se ela, nas formas vagas e aéreas que reveste, nos sorrir e namorar, em vão julgamos tê-la por o que verdadeiramente é; há sempre um ou outro momento em que a acreditamos realizável e até realizada.

E, ao convencermo-nos deveras da sua impossibilidade, sentimos a dor profunda que nos causa a perda de um objecto querido.

Como certos deuses do paganismo, que nos seus amores com os mortais vestiam a forma humana, assim o impossível, quando nos apaixonamos dele, aparece, para nos seduzir, sob a feição da realidade aos nossos olhos namorados.

E, ao revelar-se como impossível, destrói o coração que o abraça, como Júpiter sacrificou a imprudente Sémele, ao aparecer- -lhe em toda a sua glória de Deus.

Qual fosse a ideia constante, o pensamento recatado de Augusto, sabem-no os leitores: era o amor de Madalena. A natureza desta paixão dizia ele conhecê-la. Não tinha outra aspiração além de existir, era como o culto pela Virgem do Cristianismo, em que se adora por adorar, em que na mesma adoração se acha o prémio do culto, em que o deixar-se adorar é o mais que pode pedir-se ao objecto dele.

De tudo isto estava sinceramente convencido Augusto.

Mas porque foi que, desde os primeiros momentos em que viu Henrique, sentiu quase aversão para ele? Porque foi que, amável e bondoso para com todos, só para com o desconhecido se mostrou frio e irritante? Porque foi enfim que, ao persuadir-se, por certos indícios, de que Madalena e Henrique se amavam, caiu no desalento, em que tantas causas de infortúnio o não tinham lançado ainda? Porque a verdade era que foi este o golpe que o venceu.

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pág. 466 (Capítulo 30)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 466

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506