pregar na festa do orago da aldeia, o padre encontrou-se com Augusto na sacristia e, conversando-o, admirou-lhe a penetração, cativou-se da sua modéstia e lamentou não estar mais perto dele, porque o auxiliaria, como pudesse, nos estudos.
Augusto perguntou-lhe se era sincera aquela vontade; afirmando- lhe o padre que sim, respondeu que não seria então estorvo a distância, porque ele a venceria.
E, daí em diante, duas vezes por semana, às quintas-feiras e domingos, franqueava légua e meia dos mais escabrosos caminhos, para ir ouvir as lições do erudito abade. Assim se aperfeiçoou na latinidade, cultivou a Filosofia e adquiriu o gosto pelos nossos velhos prosadores e poetas. Vinha de lá carregado de livros para ler durante a semana. Toda a biblioteca do padre lhe passou pelas mãos.
Era, porém, o teólogo clássico exclusivo e nada visto em línguas e literaturas modernas.
A sorte não recusou ainda a Augusto um novo mestre.
Entre os muitos estudos de estradas, de que os governos em Portugal fazem proceder, vinte anos antes, a construção definitiva de uma só, que de ordinário sai sempre como se não fosse tão estudada, um houve que levou à aldeia, em que eu e o leitor nos achamos, um engenheiro que aí fez quartel e centro de operações, durante três meses inteiros.
A casa em que ele se alojou ficava próxima da de Augusto. Cedo travaram conhecimento os dois. O engenheiro o menos que possuía eram livros de Matemática; mas, quanto a literatura moderna, trazia nas malas e baús uma excelente provisão.
Não tendo que fazer às noites, entreteve-se a ensinar o francês a Augusto e a ler-lhe os livros da sua biblioteca portátil. Voavam as horas a Augusto naqueles serões; neles aprendeu todos os nomes da nossa literatura moderna, bem como os principais da França e de Inglaterra.