- Compro um tambor novo, uma espada verdadeira, uma gravata encarnada e um cachorro. Depois, caso-me.
- Casas-te?
- Pois.
- Oh! Tom, tu... tu não estás bom da cabeça!
- Espera e verás.
- Pois será assim, mas é a coisa mais parva que podes fazer. Vê lá tu o meu pai e a minha mãe. Sempre à bulha! Lembro-me disso perfeitamente.
- Isso não quer dizer nada. A rapariga com quem me vou casar não é pessoa para andar à bulha.
- Também calculo que não são todas iguais, Tom, mas, seja como for, sempre é uma responsabilidade. Pensa bem nisto. Se o digo é para teu governo. Como se chama a rapariga?
- Rapariga não; é uma menina.
- Calculo que é a mesma coisa. Uns dizem rapariga, outros dizem menina, e tantos uns como outros têm razão.
- Hei-de dizer-te um dia, mas hoje não.
- Está bem, está combinado. O pior é que se te casas fico ainda mais só do que até aqui.
- Não ficas, porque vais viver comigo. Mas agora vamos trabalhar. Trabalharam e suaram, sem resultado, durante meia hora. Depois, trabalharam ainda outra meia hora, também sem resultado, até que, por fim, Huck disse:
- Eles enterram sempre o dinheiro num buraco tão fundo?
- Sempre não. Às vezes. No entanto, calculo que tornámos a enganar-nos.
Escolheram então um outro lugar e recomeçaram. Embora devagar, o trabalho lá ia progredindo, e os dois rapazes conservaram-se em silêncio durante algum tempo, mas, em certa altura, Huck encostou-se ao cabo da enxada, enxugou com a manga as gotas de suor da testa e disse:
- Onde vamos nós cavar quando acabarmos aqui?
- Calculo que talvez seja melhor procurarmos junto da árvore grande, lá em cima no monte Cardiff, por detrás da casa da viúva.
- Também me parece que deve ser boa ideia, mas não quererá a viúva tirar-nos o dinheiro, visto o terreno ser dela?
- Tirar-nos o dinheiro? Ela que experimente, a ver o que lhe acontece. Quando alguém acha um tesouro escondido tem direito a ficar com ele, seja de quem for o terreno onde o encontrou.
Satisfeitos com esta conclusão, continuaram a trabalhar, mas, passados momentos, Huck disse:
- Oh diabo! Devemos estar outra vez enganados. Que achas, Tom?
- É curioso, parece-me que já sei porque é. Às vezes as bruxas metem-se no caso e talvez a dificuldade venha daí.
- Olha o disparate! As bruxas não têm poder durante o dia.