Mary puxou pela toalha e disse:
- Não tens vergonha, Tom? Como podes ser assim? A água não te faz mal.
Tom ficou um pouco desconcertado.
Quando a prima tornou a encher o alguidar, curvou-se sobre ele e demorou-se assim uns momentos, como a tomar coragem; respirou fundo e começou. Pouco depois entrou na cozinha, de olhos fechados, e procurando a toalha às apalpadelas. Da cara escorria-lhe água e sabão. Mas, quando afastou a toalha, ainda não estava como devia, porque a região limpa não ia além do queixo e das bochechas. Era como uma máscara. Para baixo e para lá desta linha havia uma extensão enorme onde a água não tinha chegado. Mary tomou conta dele, e, quando o deu por pronto, já então não havia diferença de cor entre a pele da cara e a do pescoço. Tinha o cabelo encharcado e cuidadosamente escovado, todo em caracóis. (Secretamente e à custa de muito trabalho e dificuldade, Tom costumava alisar as madeixas, fazendo o possível por colar o cabelo à cabeça; achava que os caracóis davam um ar efeminado e os seus arreliavam-no muito.)
Então Mary trouxe-lhe a roupa que costumava vestir aos domingos, havia já dois anos, e a que a família chamava simplesmente o outro fato. Por aqui se vê que não tinha muito que vestir. Quando ele se aprontou, a pequena esteve a compô-lo: abotoou-lhe o casaco até ao queixo, voltou para baixo o enorme colarinho da camisa, escovou-lhe o fato e pôs-lhe na cabeça o chapéu de palha.
Tom parecia agora muito melhor e aborrecido. E estava, na verdade, tão aborrecido como parecia, porque o incomodava e constrangia extraordinariamente o fato dos domingos e o asseio. Teve esperança de que Mary se esquecesse dos sapatos, mas até esta esperança foi vã; a prima passou-lhos todos com sebo, como era costume, e trouxe-lhos.