As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 55 / 174

Na alma dos dois rapazes despertou uma vez mais o gosto pela aventura. - És capaz de lá ir, se eu for adiante, Huck?

- Não me apetece muito, Tom. Imagina que é Injun Joe!...

Tom hesitou. Mas logo a tentação se tornou mais forte e os dois rapazes decidiram-se, depois de combinarem deitar a fugir se deixassem de ouvir ressonar; lá foram em bicos de pés, cautelosamente, atrás um do outro. Quando chegaram a uns cinco passos da pessoa que ressonava, Tom pisou um pauzito que se quebrou com um ruído seco. O homem resmungou, espreguiçou-se e o luar deu-lhe em cheio na cara. Era Muff Potter.

O coração dos rapazes tinha dado um salto quando o homem se mexeu, mas, vendo que continuava a dormir, tranquilizaram-se. Logo saíram, sempre em bicos dos pés, por um intervalo nas tábuas do tapume, e pararam a pequena distância para se despedirem. O uivo longo e lúgubre ouviu-se de novo e os dois rapazes viram o cão perto do lugar onde Potter estava deitado, de frente para ele e com o focinho levantado.

- Oh! Meu Deus! É ele! - exclamaram os dois num suspiro.

- Já ouviste dizer, Tom, que um cão vadio foi uivar em volta da casa de Johnny Miller, à meia-noite, há duas semanas, e que nessa mesma noite um noitibó foi pousar, piando, na varanda da casa? E nem por isso morreu lá alguém?

- Bem sei. E talvez não morra, mas é verdade ou não que, no sábado a seguir a isso, Gracie Miller caiu no lume da cozinha e ficou muito queimada?

- É verdade, mas não morreu. E, o que é mais, está bastante melhor.

- Pois espera e verás. Está perdida, tal e qual como MuffPotter. Isto é o que os pretos dizem, Huck, e eles sabem muito a esse respeito.

Aqui, separaram-se, pensativos. Quando Tom saltou pela janela para dentro do quarto, a noite tinha quase passado. Despiu-se com muito cuidado e adormeceu contente por ninguém ter dado pela sua falta. Não se apercebeu de que Sid estava acordado, e já assim tinha estado havia mais de uma hora.

Quando Tom acordou já o irmão não estava no quarto. Pela luz, pareceu-lhe que era tarde e sentiu um certo alarme. Porque não o teriam chamado, como de costume, insistindo até que se levantasse? Com um pressentimento, vestiu-se e foi para baixo em menos de cinco minutos. Sentia-se mal disposto e com sono. A família ainda estava à mesa, mas já tinha acabado de almoçar.





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