Ninguém lhe ralhou, mas todos desviavam o olhar, e havia um silêncio e um ar solene que lhe fez sentir o coração gelado. Sentou-se e procurou mostrar-se satisfeito, mas não conseguiu; ninguém respondeu nem sorriu, e Tom tornou a calar-se, muito triste.
Depois do almoço, a tia chamou-o de parte e Tom quase que se alegrou julgando que ia ser sovado; mas enganou-se. A tia chorou, lamentou-o e perguntou-lhe como podia ser tão mau e dar-lhe tantos desgostos, acabando por lhe dizer que se assim continuasse a levaria à morte, pois estava convencida agora que era inútil tentar emendá-lo. Isto foi muito pior do que mil sovas e Tom sentia o coração mais martirizado do que o corpo. Chorou, pediu perdão, prometeu fazer-se bom rapaz e teve licença para sair dali, mas foi persuadido de que o perdão era incompleto e que as suas promessas não inspiravam confiança.
Estava demasiado triste para pensar sequer em se vingar de Sid, por isso era absolutamente escusada a este a fuga para as traseiras da casa. Cabisbaixo, pôs-se a caminho da escola e, mal lá chegou, apanhou, com joe Harper, uma porção de chibatadas por terem faltado à escola na tarde anterior.
Através de tudo isto, a sua expressão era a de alguém que tem desgostos grandes de mais para se preocupar com insignificâncias. Foi para o seu lugar, pôs os cotovelos em cima da carteira, a cara nas mãos, e ficou a olhar para a parede com o ar daqueles cujos sofrimentos atingiram os limites, que já não podem ser excedidos. Sentia uma coisa dura debaixo do cotovelo, e só ao fim de muito tempo, quando mudou de posição, pegou nesse objecto para ver o que era. Estava embrulhado num papel que desenrolou e, com um suspiro fundo, viu a sua maçaneta da trempe de latão.
Foi isto a gota de água que fez transbordar o copo.