Como a rota do navio estivesse a terminar, encaminhou-se vagarosamente para o passeio.
- Puxem para trás! Tlim-tlim-tlingue!
Endireitou os braços e esticou-os ao longo do corpo.
- Recuem para estibordo! Tlim-tlim-tlingue! T chau! T chau-tch-tchaul Tchau!
Entretanto, com a mão direita, descrevia grandes círculos, que faziam as vezes duma roda de quarenta pés.
- Façam recuar para bombordo! Tlim-tlim-tlinguel T chau! T ch-tchau-tchaul
A mão esquerda começou a descrever círculos.
- Parem a estibordo! Tlim-tlim-tlingue! Parem a bombordo! Avancem para estibordo! Parem! Deixem virar devagar! Tlim-tlim! Tlingue! T chau-tch-tch! Cuidado com o leme! Depressa, agora! Dois graus a bombordo! O que estão a fazer? Atem uma corda a esse tronco! Encostem agora e deixem seguir. Pararam as máquinas, capitão! Tlim-tlim-tlingue! Ch't! Ch't! Ch't!
(Este barulho era feito pelas caldeiras.)
Tom continuou a caiar sem fazer caso do barco a vapor. Ao fim de um momento, Ben disse:
- Ó pá! Estás atrapalhado?
Nem palavra. Tom olhava para as últimas pinceladas dadas, com um olhar de artista, depois pegou no pincel e deu outro retoque, tornando a olhar como antes. Ben pôs-se ao lado dele e Tom sentiu crescer água na boca só de olhar para a maçã, mas não parou de trabalhar.
Por fim Ben perguntou:
- Tens então de trabalhar, hem?
Tom voltou-se rapidamente.
- Ah! És tu, Ben! Não tinha dado por ti.
- Olha, vou nadar. Não gostavas de ir também? Já se vê, tens de fazer esse trabalho, não tens? Está claro que tens.
Tom olhou-o por momentos e por fim perguntou-lhe:
- A que é que tu chamas trabalho?
- Então isso não é trabalho?
Tom continuou a caiar e respondeu despreocupadamente:
- Talvez seja e talvez não. O que eu sei é que é muito do agrado de Tom Sawyer!
- Não me queres fazer acreditar que gostas disso. O pincel continuava a mover-se.
- Gostar disto? Não vejo por que não hei-de gostar. Nem todos os dias um rapaz como nós tem ocasião de pintar um tapume.
Isto punha as coisas noutro pé.
Ben parou de comer a maçã. Tom pintava cuidadosamente, movendo o pincel de um lado para o outro, dava um passo atrás para ver o efeito, retocava aqui e ali, tornava a ver o efeito e, entretanto, Ben olhava para tudo aquilo cada vez mais entretido, até que, passados momentos, disse:
- Deixas-me caiar um bocadinho, Tom?