Tom não estava mais alegre do que qualquer dos outros, mas esforçou-se por se mostrar corajoso e não deixar adivinhar o que sentia. Tinha um segredo que só queria dizer mais tarde, mas se aquele desânimo continuasse ver-se-ia obrigado a falar nele.
Com um contentamento bem fingido, começou:
- Ia apostar que já antes de nós houve piratas nesta ilha. Havemos de explorá-la outra vez. Devem ter escondido tesouros em qualquer parte. Que diriam vocês se achássemos por aqui uma arca cheia de ouro e prata?
O entusiasmo suscitado por esta ideia foi fraco, e nenhum dos outros se incomodou a responder. Tom experimentou mais um ou dois projectos, que falharam também. Era de perder a coragem.
Joe, muito triste, sentou-se no chão e pôs-se a remexer a areia com um pauzito. Por fim, disse:
- Vamos desistir, rapazes. Eu quero ir para casa. Isto está tão só!
- Não, Joe. Daqui a pouco já nos sentimos melhor – respondeu Tom. - Lembra-te da quantidade de peixe que há aqui para pescar.
- Não me importo com a pesca. Quero ir para a aldeia.
- Que disparate! És uma criança. Naturalmente queres ir ver a tua mãe.
- Quero sim, quero ir ver a minha mãe. E tu também querias, se tivesses mãe. Não sou mais criança do que vocês - terminou, fungando um pouco.
- Pois então o menino chorão que vá para o pé da mãe, não achas, Huck? Coitadinho, quer ir ver a mamã, não quer? Então que vá! Tu gostas de cá estar, não gostas, Huck? Nós ficamos, não é verdade?
Huck respondeu que sim, sem nenhuma convicção.
- Nunca mais falarei com vocês! - prometeu Joe, levantando-se e afastando-se um pouco para principiar a vestir-se.
- Que ralação! - exclamou Tom. - Ninguém quer saber de ti. Vai para a tua mãe e deixa que se riam à tua custa. És um bom pirata! Huck e eu não somos meninos choramingas e por isso ficamos, não é verdade, Huck? Ele que vá, se quiser, que não faz cá falta nenhuma.
Mas, embora dissesse tudo isto, Tom sentia-se pouco seguro e via com certo alarme continuar a vestir-se. A maneira como Huck observava esses preparativos, mantendo um silêncio significativo, também não era animadora. Quando, já vestido, Joe se pôs a atravessar o rio a vau, Tom sentiu confranger-se-lhe o coração. Olhou para Huck, que desviou a vista, dizendo timidamente:
- Eu também quero ir, Tom. Isto já estava muito só e agora pior fica. Vamos com ele, Tom.