Tinham estado escondidos numa galeria de que ninguém se servia, a assistir ao seu elogio fúnebre.
A tia Polly, Mary e os Harpers correram para os seus ressuscitados, sufocando-os com beijos e dando graças a Deus, enquanto o pobre Huck, muito envergonhado e pouco à vontade, não sabia onde se havia de meter. Hesitou e, por fim, resolveu fugir dali, mas Tom agarrou-o e disse:
- Não é justo, tia Polly. Alguém tem de se mostrar satisfeito por ver aparecer Huck.
- Com certeza. Eu própria gosto muito de o tornar a ver. Coitado dele, que não tem mãe!
Mas as atenções e as demonstrações de amizade da tia Polly tornaram-no ainda mais acanhado e contrafeito.
De súbito, o pastor gritou o mais que pôde:
- Demos graças a Deus pelo bem que nos faz! E de todo o coração! Assim fizeram. Old Hundred foi quem começou numa voz triunfante, capaz de fazer estremecer as vigas do tecto. Então, Tom Sawyer, o pirata, olhou à sua volta para todos os rapazes, que por certo o invejavam, e, no seu íntimo, confessou que era aquele o melhor momento da sua vida.
Ao sair da igreja, os fiéis, que tinham sido enganados, iam dizendo uns para os outros que de boa vontade se deixariam meter a ridículo outra vez só para ouvirem Old Hundred cantar assim novamente.
Naquele dia, Tom apanhou mais socos e beijos - segundo as variantes de disposição da tia - do que costumava apanhar num ano, e mal poderia dizer qual destas duas manifestações exprimia maior gratidão a Deus e afecto por ele.