A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 9: IX Pág. 139 / 508

- Olha, Lena, não vês? - exclamou Cristina. - São os pequenos que nos estão a dizer adeus das janelas do mirante.

De facto nas mais altas janelas do Mosteiro agitavam-se uns lenços brancos.

Mariana e Eduardo haviam-se erguido para saudarem, de longe, a irmã e a prima. Estas tiraram também os lenços e corresponderam- lhes aos sinais.

Interrompeu-as a voz de Henrique, dizendo:

- Anuncio a V. Ex.ªs que chega o rei da criação.

Efectivamente o cume do telhado da ermida e as franças despidas da alameda já se tingiam de luz.

Todas as vistas se voltaram para o oriente. Assinalava-o uma esplêndida faixa de púrpura, que, em insensível gradação, desmaiava para as extremidades até se perder de todo no azul-celeste.

Rompia já, do meio dela, um pequeno segmento do Sol; depois, o astro inteiro aparecia afogueado e vermelho, como um escudo de metal candente, e logo se desprendeu da Terra, donde parecia surgir, e subiu nos ares, como um brilhante aeróstato, ao qual se rompessem as prisões que o retinham.

O monte inundou-se de luz. O vale, em baixo, estava ainda envolto nas meias sombras da madrugada.

Nisto apareceu do outro lado da capela um dos criados do Mosteiro, que veio anunciar que o almoço estava pronto.

- Pois deveras temos um almoço? - exclamou Henrique, sinceramente surpreendido.

- Graças à previdência de minha tia, previdência de que eu zombava em casa, mas que sou obrigada a admirar agora. De facto, parece-me que estes ares do monte e frescuras da madrugada lhes devem ter aberto o apetite - respondeu Madalena. E logo após continuou para Henrique: - Agora é ocasião mais acomodada de pôr em prática os recursos do seu galanteio, primo. Quer dar o braço a Cristina? Henrique, em quem a Morgadinha suspeitara a intenção de lhe render a ela a fineza, que assim declinou na prima, teve de condescender, limitando-se a exprimir num olhar as suas queixas, olhar que Madalena fingiu não perceber.





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