A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 220 / 508

Há anos, porém, deu em tomar a peito o meu procedimento político e em pregar-me sermões e dirigir-me censuras, que eu fazia por escutar com a possível resignação. Mas um dia foi mais amargo nas suas recriminações e eu achava-me com maior susceptibilidade; julgo que lhe respondi com bastante acrimónia, e o homem saiu de minha casa ofendido e protestando não voltar mais a ela.

Procurei-o, escrevi-lhe, tentei demovê-lo do seu propósito. Não houve de quê. Havia-o ferido no seu orgulho, e é intolerante nestas condições.

- Sei-o já por experiência - disse Henrique -; que numa única entrevista que tive com ele, e que durou minutos, deu-me ocasião de lhe conhecer a irritabilidade.

- Vamos, primo Henrique; talvez possa haver quem suponha que nessa entrevista não demonstrou o primo pior do que ele possuir as qualidades de que o acusa.

- Agora - continuou o conselheiro - vão consideravelmente exacerbar-se os despeitos do ervanário contra mim.

- Porquê? - perguntou Madalena.

- Porquê?... Por causa do traçado que se adoptou para a estrada.

- Então? - disseram simultaneamente Ângelo e Madalena.

- A casa e o quintal do ervanário são os primeiros cortados.

- Não pode ser! - exclamou Madalena, com evidente expressão de susto.

Ângelo dirigiu ao pai um olhar também inquieto.

Cristina não exprimiu menos apreensiva surpresa.

- É inevitável. Os dois primeiros traçados tinham certas durezas.

O primeiro era uma luva lançada a uma influência eleitoral, poderosíssima, o brasileiro Seabra.

- Ah! - disse Madalena, com certa amargura na expressão e no olhar.

O conselheiro reparou nela e em Ângelo, em cuja fisionomia se não lia menos intenso desgosto.

- Estou adivinhando que meus filhos votariam por que antes se arrostasse com os despeitos desse influente.





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