»Abriu-se a porta, e entrou na sala uma criança, que eu não tinha ainda visto. Era uma menina pálida, de gesto afável e angélico. Vestia toda de branco. Entrou e aproximou-se do conselheiro, que jogava com uns amigos. O conselheiro, depois de beijá-la, não sei que lhe disse ao ouvido. Ela correu então a sala com a vista; viu-me e veio direita a mim.
- Não conhecias, já da aldeia, Madalena? - perguntou o ervanário.
- Não; minha mãe veio para aqui no ano em que, por morte da sua, Madalena voltou a Lisboa. A afabilidade, a gentileza desafectada com que me falou, causou- me um alívio inefável. Ainda hoje sinto como que os reflexos daquela suave impressão. Parecia-me ouvir a voz de minha mãe; tinha o timbre da simpatia. Encheu-se-me logo de confiança o coração. Com ela não senti mais aquele acanhamento que me enleava.
»Depois falava-me de coisas que eu sabia tão bem! Perguntava-me a respeito dos campos, das árvores, das abelhas, dos ninhos dos pássaros, das flores, dos trabalhos do linho.