Respeitou apenas as cartas de Ângelo, que releu comovido.
Falava-se em algumas de Madalena. O sobressalto do seu coração, ao ler aquele nome, era então mais violento que nunca.
Nestas pesquisas, veio-lhe às mãos um pequeno maço, que pertencera ao ervanário.
Ia para as queimar também, quando a inscrição, que viu por fora da cinta que as enfeixava, o fez hesitar.
Liam-se estas palavras: «Cartas de Madalena».
Cartas de Madalena! Este nome tinha no ânimo de Augusto o valor de uma tentação.
Cartas de Madalena! Era quase ouvi-la falar, prazer a que já tinha renunciado; era entrar em comunhão de pensamentos com ela, e infeliz de quem não concebe a casta voluptuosidade deste gozo.
Mas ao mesmo tempo hesitava.
Pertencia-lhe também aquele legado? Não seria um abuso lê- -las? Devia antes queimá-las, mas... eram cartas de Madalena. E depois, que mal poderia vir da indiscrição? Não tinha ele um coração que não devia abrir-se mais a ninguém? Encerrar ali qualquer segredo era encerrá-lo quase em um túmulo.
E que segredos podiam ser os de Madalena e Vicente? De que se poderia tratar ali, a não ser de algum afectuoso cumprimento da Morgadinha ao velho, que sempre tratara com íntima familiaridade, ou algumas meigas repreensões por a sua porfiada ausência do Mosteiro?
Augusto recordava-se até de o velho lhe ter falado na índole destas cartas.
Nas vésperas de renunciar para sempre à felicidade, devia-se- -lhe perdoar a tentação.
Abriu-as.
Não ia muito adiantado na leitura, quando já todos os sinais de hesitação cediam os lugares aos da mais irreprimível avidez. E, terminada a primeira, abriu, leu ou devorou outra, após outra e outra, até à última; da última voltava de novo à primeira, e cada vez mais profunda comoção parecia dominá-lo.