a vinha, que eles chamavam do Senhor; as mulheres, abandonando os lares, seguiam-nos como rebanhos; o culto católico era por eles cada vez mais arrebicado com orações absurdas e cerimónias ridículas, e o eterno anátema da ignorância contra o progresso da sociedade servia de tema predilecto aos seus bárbaros discursos.
Ardente prosélita destes apóstolos de fé duvidosa, a Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista, a metade feminina do casal em questão, tomara por modo de vida as devoções da igreja, onde ia chorar as desgraças da Humanidade, que tão fora via andar da estrada direita.
Augusto pouco se demorou nesta sala; respeitando a alcova conjugal, que era vedada aos olhares profanos por uma colcha de chita de largas e folhudas ramagens, tomou pelo corredor que conduzia à cozinha, donde lhe continuava a chegar aos ouvidos o som de vozes, que primeiro o atraíra.
Ao contrário do que esperava, porém, só uma pessoa encontrou na cozinha, conquanto falasse com a vivacidade que em poucos diálogos se mantém.
Esta pessoa era o dono da casa, o Sr. José do Enxerto, ou vulgarmente chamado o ti’ Zé P’reira - nome que lhe vinha do popular e ruidoso instrumento, o clássico zabumba, que nas nossas aldeias tem ainda hoje aquele nome. - Era muito para ver e admirar a mestria com que o nosso homem o sabia tocar nas festas e arraiais, à frente das procissões e cercos, e, finalmente, em todas as solenidades públicas.
O ti’ Zé P’reira era homem dos seus quarenta e tantos anos; tinha no rosto, principalmente no nariz, vestígios evidentes das suas simpatias pela divindade celebrada nos antigos ditirambos.
Esposo da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista, vivia em perene sabatina com a sua cara-metade, sujeitando-lhe todas as suas acções, mas salvando sempre o direito de protestar pela palavra.