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Capítulo 7: VII

Página 111
A amedrontada criança chegava a recear pela salvação da alma.

É sempre funesta a influência que exercem sobre a infância os caracteres como os da beata.

O Herodes percebeu a impressão sob a qual estava a filha e acudiu-lhe.

- Toma lá, Ermelinda - disse ele, tirando da mala uma pequena medalha com um retrato. - É um presente do nosso amigo Ângelo para nós, ou, antes, para ti... Ermelinda pegou no retrato com não reprimido alvoroço. Era outra vez a criança.

A madrinha lançou para a medalha um olhar oblíquo e reconheceu o retrato.

- Em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo! - rompeu ela com espanto exagerado. - Este homem não tem a cabeça no seu lugar, por mais que me digam! Ele quer perder a filha decerto! A fazer a cabeça doida a uma criança! O Herodes, ouvindo estas palavras, pousou com ímpeto a mala no chão, e, com os olhos chamejantes e as faces injectadas, vociferou, cedendo o campo à cólera, que se lhe acumulou no seio:

- Com seiscentos milhões de diabos! Você que está aí a dizer, mulher? São os sermões dos missionários que lhe têm assim afiado a língua e deitado peçonha na baba? Com efeito! Saiba que dou mais pela criança, de quem é aquele retrato, do que por quantos sotainas lhe ouvem os seus pecados todas as semanas e por quantas beatas andam consigo a dar marradas no lajedo da igreja. Fazer a cabeça doida a minha filha! Tenha mão na língua, comadre, que lhe não sofro tanto. Doida lha trazem a vossemecê os missionários e os sermões.

Seu marido fora eu, que a mania lhe tirava.

O Zé P’reira, apesar dos seus desgostos domésticos, zelava a dignidade do casal; e não levava à paciência que outro, além dele, dissesse daquelas verdades à mulher; por isso, ouvindo-as, através dos sonidos que lhe chiavam nos ouvidos, levantou-se, e, sustentando- se nas pernas vacilantes, e bracejando sempre, bradou:

- Compadre! Eu sei quais são os meus deveres! Compadre, prudência!.

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pág. 111 (Capítulo 7)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 111

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506