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Capítulo 13: XIII

Página 196

Esta pequena contenda literária entre duas crianças podia dar margem a profundas reflexões a quem para elas estivesse disposto.

Ângelo estava no princípio de uma educação esmerada. Principiara já a desenvolver-se nele a inteligência, e a acordar os instintos artísticos, que estremeciam já sobre as primeiras seduções da forma. Nestas épocas críticas, em que esses segredos se revelam, é tal o encanto em que eles nos trazem, que exclusivamente nos votamos ao novo culto, com fanática intolerância. Onde as louçanias do estilo, os primores e a sonora harmonia do metro, e o brilhantismo das imagens nos não afagam os sentidos, recusamos demorar a vista; e escapa-nos assim na sombra muita beleza real, às vezes oculta sob a grosseira revestidura da poesia ou narrativa popular.

É necessário que passe o entusiasmo, a violência da paixão nascente, que venha a frieza de ânimo necessária à imparcialidade do juízo, para que nos não cause repulsão a aspereza, e grosseria até, da forma, e consigamos apreciar o belo que porventura nela se envolva.

Dá-se com a beleza da ideia e da forma de qualquer obra literária, o que se dá com a beleza moral e a beleza física de uma mulher.

Ambas são feitas para nos comoverem e dominarem. Mas, quando o assomar de um sentir novo começa a alvoraçar o sangue do adolescente, quando formas vagas e formosíssimas principiam a encantar-lhe os sonhos de suas noites febris, a paixão da forma domina-o; por ela sacrifica tudo: uma modelação perfeita, um delineamento gracioso poderá decidir da sua vida inteira, e, na fascinação que o cega, nunca verá a formosura da alma, que se abriga numa pouco feliz encarnação. É que, para apreciar a beleza moral, para a ver transparecer através do invólucro exterior, é preciso deixar passar a vertigem dos primeiros momentos, ou não a ter ainda experimentado.

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pág. 196 (Capítulo 13)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 196

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506