Ilíada - Cap. 33: Capítulo 33 Pág. 167 / 178

— Infeliz de mim! Agora sã faltava que tu perdesses o juízo! Queres então ir à presença daquele homem feroz que matou tantos filhos teus? Não vês que se ele te apanha não terá piedade de ti, nem respeitará a tua velhice? Não, para nós não resta outro consolo senão chorar o nosso querido Heitor, sem esperanças de o reaver!

E o velho Príamo, sem vacilar, replicou:

— Foram os deuses que me mandaram, Hécuba. Portanto, não me embaraces nem procures impedir-me. Irei até lá, mesmo que seja meu destino morrer diante dos navios gregos. Depois de abraçar Heitor, pouco me importa que Aquiles me mate.

Disse isto e começou a tirar das arcas os objectos mais preciosos que ia encontrando: tapetes, tónicas, taças de ouro, jóias e dinheiro. Ao sair, encontrou os nove filhos que ainda lhe restavam a perambular pelas salas do palácio. Empurrando-os com o ceptro, censurou-os amargamente:

— Sai da minha frente, cobardes que não sabeis lutar! Antes Aquiles vos tivesse matado e me tivesse deixado Heitor. Era ele o único de quem não me envergonhava, s6 ele era o orgulho da minha velhice! Vós outros não passais de mentirosos e fanfarrões e só servis para comer e beber. Ide depressa atrelar os cavalos e levai estes objectos para o carro!

Os rapazes apressaram-se a obedecer às ordens do pai è trouxeram para o pátio um dos melhores carros do palácio, nele colocando os objectos preciosos que se destinavam ao resgate de Heitor. Mas quando Príamo ia tomar assento na carruagem, aproximou-se Hécuba trazendo na mão uma taça de ouro cheia de vinho saboroso. Apresentando-lhe a taça, disse-lhe ela:

— Toma, meu esposo, e faz uma libação a Júpiter Olímpico. Pede-lhe que te livre dos inimigos e te reconduza são e salvo ao palácio. Bem sabes que eu não queria que fosses ao encontro de Aquiles. Mas já que te obstinas, vai! Antes, porém, implora fervorosamente a protecção do deus!





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